Confissão de Pecado: sete pecadores
Essa mensagem é muito edificante. Foi escrita por Charles Haddon Spurgeon, O “príncipe dos pregadores” e um dos gigantes da fé do século XIX.
“Meu sermão esta manhã terá sete textos e minha pregação será centrada em apenas duas palavras de cada um, porque os sete textos são todos semelhantes e ocorrem em sete porções diferentes da santa Palavra de Deus. Porém, eu usarei o contexto de todos eles para exemplificar casos diferentes; e peço a vocês que trouxeram suas Bíblias que os acompanhem a medida que forem mencionados.
O tema desta manhã será: CONFISSÃO DE PECADO. Nós sabemos que isto é absolutamente necessário à salvação. A menos que haja uma verdadeira e sincera confissão de nossos pecados a Deus, não temos nenhuma promessa que nós acharemos clemência no sangue do Redentor. “Todo aquele que confessar seus pecados e os abandonar achará misericórdia”. Mas não há nenhuma promessa na Bíblia para o homem que não confessar seus pecados.
Há muitos que fazem uma confissão, e uma confissão diante de Deus, e não recebem bênção alguma, porque a confissão deles não tem certas marcas que são requeridas por Deus, que provariam sua genuinidade e sinceridade e que
demonstrariam terem sido fruto do trabalho do Espírito Santo.
Meu texto esta manhã consiste em duas palavras: “eu pequei”. E você verá como estas palavras, nos lábios de homens diferentes, indicam sentimentos muito diferentes. Enquanto uma pessoa diz “eu pequei” e recebe perdão, outro diz o mesmo, porém segue seu caminho para se enegrecer com pecados piores que antes e mergulha em profundezas maiores de pecado do que antes ele tinha experimentado.
1. O Pecador Endurecido:
Faraó: “Eu pequei”. Êxodo 9:27.
O primeiro caso que eu apresentarei a vocês é o do PECADOR ENDURECIDO que, quando experimenta terror, diz “eu pequei”. E você achará o texto no livro de Êxodo 9:27 – “Então Faraó mandou chamar Moisés e Arão, e disse-lhes: Esta vez pequei; o Senhor é justo, mas eu e o meu povo somos a ímpios”.
Mas porque esta confissão nos lábios deste altivo tirano? Ele não se humilhava perante Jeová.
Então porque aquele orgulhoso se curvou? Você julgará o valor da sua confissão quando você ouvir as circunstâncias debaixo das quais foi feita: “E Moisés estendeu a sua vara para o céu, e o Senhor enviou trovões e saraiva, e fogo desceu à terra; e o Senhor fez chover saraiva sobre a terra do Egito. Havia, pois, saraiva misturada com fogo, saraiva tão grave qual nunca houvera em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação”.
Agora, diz Faraó, enquanto o trovão estava rolando no céu, enquanto o fogo então incendiava o solo e enquanto o granizo descia em grande quantidade, ele diz, “Eu pequei”.
Ele é somente um exemplo de multidões da mesma categoria. Quantos rebeldes endurecidos a bordo de navios, quando as madeiras estão deformadas e rangendo, quando o mastro está quebrado e o navio está vagando ao sabor do vento forte, quando as ondas famintas estão abrindo suas bocas para tragar o navio tão rapidamente como aqueles que entram na cova, quantos marinheiros cujos corações se encontram endurecidos pelo pecado, curvam seus joelhos com lágrimas nos olhos, e clamam “eu pequei!”.
Mas que proveito e que valor tem a confissão deles? O arrependimento, que nasceu na tempestade, morreu na calmaria; aquele arrependimento, criado entre trovões e raios, cessou tão logo tudo foi silenciado e o marinheiro que era piedoso quando a bordo do navio, se tornou um dos piores e mais abomináveis entre os marinheiros quando colocou seu pé em terra firme.
Também, com que freqüência nós vemos isto em uma tempestade com abundância de raios e trovões? Muitos homem empalidecem quando ouvem o trovão ressoando; as lágrimas enchem seus olhos, e eles clamam “Ó Deus, eu pequei!”; enquanto as vigas da sua casa são balançadas e o solo embaixo deles oscila diante da voz de Deus em Sua majestade. Mas ai de tal arrependimento!
Quando o sol novamente brilha e as negras nuvens passam, o pecado vem novamente sobre o homem e ele se torna pior que antes. Quantas confissões do mesmo tipo, nós também vemos em tempos de epidemias fatais!
Então nossas igrejas ficam cheias de ouvintes que, por verem tantos enterros passarem por suas portas, ou porque tantos morreram na sua rua, não podem se abster de ir à casa de Deus para confessar seus pecados. E debaixo daquela visitação, quando um, dois e três caem mortos em sua casa, ou na porta ao lado, quantos pensaram que realmente volver-se-iam a Deus! Mas, ai! quando a pestilência acaba seu trabalho, a convicção cessa; e quando o sino toca pela última vez por uma morte causada por uma epidemia, então seus corações deixam de bater em penitência e suas lágrimas deixam de fluir.
Quando você pede a Deus que te livre disso ou daquilo, em meio a alguma difícil situação, prometendo-lhe ser fiel ou não agir mais dessa ou daquela forma, na verdade, você acabou de fazer um voto. O não cumprimento disso se assemelha a votos não cumpridos.
Como são tratados os votos? O voto, por mais precipitadamente que tenha sido feito, é registrado no céu. V. versículos:
Este é o primeiro estilo de arrependimento; e é um estilo que eu espero que nenhum de vocês imitem, porque é totalmente sem valor. É inútil você dizer “eu pequei” somente debaixo da influência do terror, e então esquecer disto depois.
2. O Homem Dúbio
BALAÃO: “Eu pequei”. Nm. 22:34.
Apresentaro a vocês um outro caráter – O HOMEM DÚBIO, que diz “eu pequei” e sente que ele realmente o fez, e sente de maneira profunda, mas é tão mundano que ele “ama a injustiça”. O caráter que eu escolhi para ilustrar isto, foi o de Balaão.
Abra o livro de Números 22:34: “Respondeu Balaão ao anjo do Senhor: eu pequei”.
“Eu pequei”, disse Balaão; mas, apesar disto, ele se foi com seu pecado. Um dos caracteres mais estranhos do mundo inteiro é o de Balaão. Eu freqüentemente tenho me surpreendido com aquele homem; ele realmente parece, em outro sentido, ter surgido das linhas de Ralph Erskine:
“Para o bem e para o mal igualmente se curva,
E para ambos: o diabo e O Santo”.
Balãao era assim. Algumas vezes falava com tamanha eloqüência e triunfo, que não poderia se igualar a nenhum outro homem; e outras vezes ele exibia a pior e mais sórdida cobiça que pode desgraçar a natureza humana.
Pense. Você vê Balaão; ele está no cume da colina, e lá embaixo está o povo de Israel; ele é ordenado a os amaldiçoar, e ele diz: “Como amaldiçoarei a quem Deus não amaldiçoou? e como denunciarei a quem o Senhor não denunciou?”
E Deus abre seus olhos, e ele começa a falar até mesmo sobre a vinda de Cristo, e ele diz: “Eu o vejo, mas não no presente; eu o contemplo, mas não de perto”.
E então ele apresenta sua oração dizendo: “Que eu morra a morte dos justos, e seja o meu fim como o deles!”. E vocês acharão que aquele homem tem esperança. Espere até que ele desça da colina, e vocês lhe ouvirão dar o mais diabólico conselho ao rei de Moabe, tão diabólico que era até mesmo possível ser sugerido pelo próprio Satanás. Disse ele ao rei:“Você não pode vencer este povo na batalha, porque Deus está com eles; tente instigá-los contra Deus”.
E vocês sabem como, com luxúrias temerárias, os Moabitas tentaram seduzir os filhos de Israel a serem infiéis a Jeová; de forma que este homem parecia ter a voz de um anjo, às vezes, mas também a alma de um diabo no seu íntimo.
Ele era um caráter terrível; era um homem de duas mentes, um homem que foi por todo o caminho com duas disposições. Eu sei que a Escritura diz “Ninguém pode servir a dois senhores”. Balaão laborou em servir a dois; era igual as pessoas de quem foi dito “Eles temeram o Senhor, e serviram outros deuses”.
Ou como Rufus que era parecido com Balaão; porque você tem conhecimento que nosso velho rei Rufus pintou Deus em um lado do seu escudo e o diabo no outro, e abaixo, o lema: “Pronto para ambos; pegue quem puder”.
Há muitos, que de igual modo, estão prontos para ambos. Eles encontram o pastor, e quão piedosos e santos eles são; no dia do Senhor eles são as pessoas mais respeitáveis e justas do mundo; eles falam pausadamente por pensarem ser isto algo eminentemente religioso. Mas em um dia de semana, se você quer encontrar os maiores desonestos e fraudadores, eles são alguns destes homens que são tão hipócritas na sua devoção.
Nenhuma confissão de pecado pode ser genuína, a menos que seja feita de todo o coração. É inútil você dizer: “eu pequei” e então continuar pecando.
Alguns homens parecem nascer com dois caracteres. Eu observei na livraria da Trinity College, Cambridge, uma bonita estátua do Lord Byron. O bibliotecário me disse, “Olhe daqui, senhor”. Eu olhei, e disse: “que semblante intelectual!”. “Que gênio ele era!”.
Então ele disse: “Venha para o outro lado!”.
“Ah! Que demônio! Aqui está um homem que poderia desafiar Deus”. Ele tinha um desagrado e um semblante terrível em sua face; Eu me virei e disse ao bibliotecário: “você pensa que o artista planejou isto?”.
“Sim!” ele disse: “ele desejou retratar os dois caracteres: o grande, o esplêndido e o gênio quase super-humano que ele possuía, e também a enorme massa de pecado que existia em sua alma”.
Existem alguns homens aqui do mesmo tipo. Eu ouso dizer que, como Balaão, eles poderiam operar milagres; e ao mesmo tempo há algo neles que revela um caráter repugnante de pecado, tão grande quanto pareceria ser o caráter deles para a retidão. Balaão, você sabe, ofereceu sacrifícios a Deus no altar de Baal; isso era típico do seu caráter.
E assim muitos fazem; eles oferecem sacrifícios a Deus no santuário de Mamon; e enquanto eles ofertam a uma igreja e distribuem ao pobre, eles na outra porta do seu escritório contábil, oprimem o pobre e espremem até a última gota de sangue da viúva, para ficarem ricos.
A confissão daquele homem dúbio não tem nenhum proveito.
3. O Homem Insincero.
SAUL: “Eu pequei”. 1 Samuel 15:24.
E agora um terceiro caráter, e um terceiro texto. No primeiro livro de Samuel 15:24, lemos: “Então disse Saul a Samuel: “Eu pequei”.
Aqui está o HOMEM INSINCERO – o homem que não é como Balaão, até certo ponto sincero sobre duas coisas; mas um homem que é justamente o oposto – que não tem nenhum ponto proeminente em seu caráter, mas que é sempre modelado pelas circunstâncias que passam pela sua cabeça. Saul era assim.
Samuel o reprovou e ele disse: “eu pequei”. Mas ele não queria realmente dizer aquilo, porque se você ler o verso inteiro, vai vê-lo dizendo: “porque eu temi o povo”, o que era uma desculpa mentirosa. Saul nunca temeu ninguém; ele sempre estava bastante pronto para fazer sua própria vontade; ele era um déspota.
Um pouco depois, ele sustentou outra desculpa, ao afirmar que havia trazido bois e cordeiros para oferecer a Jeová, portanto, ambas desculpas não podiam ser verdadeiras. A característica mais proeminente no caráter de Saul era sua insinceridade.
Um dia, ele manda buscar a Davi da cama dele, para o matar. Outra vez, ele declara “tão certo como vive o Senhor, ele (Davi) não morrerá”. Um outro dia, porque Davi salvou sua vida, ele disse “Mais justo és do que eu; não tornarei a fazer-te mal”. Isso ele disse após o perseguir, com o objetivo de matá-lo.
Às vezes Saul se encontrava entre os profetas e profetizava; logo depois entre as bruxas; às vezes em um lugar, outras em outro, e insincero em tudo.
Quantas pessoas como ele encontramos em toda assembléia cristã; homens que são muito facilmente modelados! Diga o que quiser a eles, e eles sempre concordarão com você. Mas, na verdade, são homens que parecem ter corações de borracha: você pode os apertar de qualquer modo que desejar, eles são tão elásticos que você sempre alcançará seu propósito; entretanto, eles não têm firmeza de caráter e logo voltam a ser o que eram antes.
Muitos de vocês fazem o mesmo; curvam suas cabeças na Igreja e dizem: “Temos errado e nos desviado do caminho”, mas você não pretendia, verdadeiramente, dizer isto. Lágrimas correrão facilmente da sua face; mas, apesar disto, a lágrima se secará tão depressa quanto foi produzida, e você permanece, em todos seus intentos e propósitos, igual ao que era antes.
Dizer “eu pequei” de uma maneira sem significado ou sentido, é pior do que desprezível, porque é um escárnio a Deus confessar com insinceridade de coração.
4. O Penitente Duvidoso.
ACÃ: “Eu pequei”. – Josué 7:20.
Agora quero apresentar a você um caso muito interessante; é o caso do PENITENTE DUVIDOSO, o caso de Acã, no livro de Josué 7:20: “Respondeu Acã a Josué: Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel”.
Você sabe que Acã roubou despojos da cidade de Jericó – que ele foi descoberto através de sorte, e levado a morte. Cito este caso como o representante daqueles cujo caráter é questionável em seu leito de morte; aqueles que se arrependem aparentemente, mas de quem a maioria de nós só pode dizer que nós esperamos que suas almas estejam salvas afinal, mas verdadeiramente nós não podemos assegurar.
Acã, você está lembrado, foi apedrejado, por desonrar Israel. Do Mishna, uma antiga exposição judia da Bíblia, constam estas palavras, “Josué disse a Acã, hoje o Senhor te perturbará a ti”. E uma nota sobre este texto que diz: “Ele disse este dia, o que implica que ele só seria perturbado nesta vida, sendo apedrejado até a morte, mas que Deus teria misericórdia da sua alma por ter ele feito uma confissão completa do seu pecado”. E eu, também, sou propenso, ao ler o capítulo, a concordar com a idéia de meu venerável e agora glorificado predecessor, Dr. Gill, que acreditava que Acã realmente foi salvo, embora tenha sido condenado à morte pelo seu crime, como um exemplo.
Observe como Josué falou de forma compassiva com ele. Ele disse: “Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor Deus de Israel, e faze confissão perante ele. Declara-me agora o que fizeste; não mo ocultes”.
E você encontra Acã fazendo uma confissão completa. Ele diz: “Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel, e eis o que fiz: quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata debaixo da capa”.
Outros teólogos não têm a mesma opinião; e muitos outros expositores consideram que assim como seu corpo foi destruído, assim também foi sua alma. Por este motivo, eu selecionei o caso dele como sendo o de um arrependimento duvidoso.
A questão é: será que em outra circunstância, se o pecado não tivesse sido exposto a todo o povo de Israel, ele teria confessado ?
Espero que nenhum de vocês tenha um arrependimento de leito de morte, como este; eu espero que seu pastor ou seus pais não tenham que estar ao seu lado da cama, dizendo consigo mesmo: “Pobre companheiro, espero que ele seja salvo”. Mas ai! arrependimentos de leito de morte são coisas tão frágeis, cujos fundamentos de esperança são tão triviais e tão pobres, que eu tenho medo, depois de tudo, que esta alma possa estar perdida”.
5. O Arrependimento de Desespero.
JUDAS: “Eu pequei”. Mateus 27:4.
Não o deterei por mais tempo, mas tenho de lhe mostrar outro caso; o pior de todos. É o ARREPENDIMENTO DE DESESPERO. Examine Mt. 27:4. “E Judas disse, eu pequei”.
Sim, Judas o traidor; aquele que traiu seu Mestre, quando viu que seu Mestre foi condenado, “devolveu, compungido, as trinta moedas de prata aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente … E tendo ele atirado para dentro do santuário as moedas de prata, retirou-se, e foi enforcar-se”.
Aqui está o pior tipo de arrependimento de todos; de fato, não sei se é justo chamar isto de arrependimento; isto deve ser chamado remorso de consciência.
Você lhe fala que Cristo morreu pelos pecadores; e ele responde, “não há nenhuma esperança para mim; Eu blasfemei contra Deus na Sua face; eu O desafiei; meu dia de graça eu sei que é passado; minha consciência está cauterizada com ferro quente; eu estou morrendo, e eu sei que estou perdido!”
6. O Arrependimento do Santo.
Jó: “Eu pequei”. – Jó 7:20
E agora eu entro na luz do dia. Eu o tenho levado por confissões tristes e escuras; eu não o deterei por mais tempo lá, mas o trarei para as duas boas confissões que lerei para você. A primeira é a de Jó 7:20 – “Eu pequei; que te farei, ó Preservador dos homens?”
Este é O ARREPENDIMENTO DO SANTO. Jó era um santo, mas ele pecou. Este é o arrependimento de um homem que já é filho de Deus, um arrependimento aceitável diante de Deus.
Davi era um espécime deste tipo de arrependimento, e seria proveitoso se estudassem cuidadosamente seus salmos de contrição; a linguagem que utiliza é sempre cheia de pranto de humilhação e arrependimento sincero.
7. A Confissão Abençoada
O PRÓDIGO: “eu pequei”. Lc. 15:18.
Agora tratarei do último exemplo; é o caso do pródigo. Em Lc. 15:18, nós encontramos o pródigo dizendo: “Pai eu pequei”. Ó!, aqui está uma CONFISSÃO ABENÇOADA! Aqui está o que prova que um homem tem um caráter regenerado – “Pai, eu pequei”.
Deixe-me pintar a cena. Lá está o pródigo; ele fugiu de uma boa casa e de um pai amoroso, e gastou todo seu dinheiro com prostitutas, e agora ele não tem mais nada. Ele vai para seus antigos companheiros e lhes pede ajuda. Eles riem dele com desprezo. “Ó”, diz ele, “vocês beberam meu vinho muitas vezes; eu sempre paguei para vocês nas nossas festas; vocês não vão me ajudar?”
Mas eles dizem: “Vá embora!” e o expulsam dali. Ele procura todos seus amigos com quem tinha se associado, mas nenhum deles lhe dá qualquer coisa.
Por fim, alguém lhe diz: “Você quer um emprego? então vá e alimente meus porcos”. O pobre pródigo, o filho de um rico proprietário de terras, que teve uma grande fortuna, tem que sair para alimentar porcos; e ele era judeu também! O pior emprego (na sua cabeça) para o qual ele podia ser contratado.
Veja-o lá, em trapos sujos, alimentando porcos; e qual era seu salário? Tão pouco que ele “desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada”.
Veja, lá está ele, no seu lamaçal e imundície equivalentes aos dos seus companheiros de chiqueiro. De repente, um pensamento posto lá pelo Espírito Santo, surge em sua mente: “Meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados’”. E ele volta.
Ele mendiga por todo seu caminho, de cidade em cidade. Às vezes, ele consegue carona em uma carruagem, talvez, mas em outros momentos ele vai na sua marcha resoluta por colinas estéreis e vales desolados, sozinho.
E, agora, afinal ele chega à colina fora da aldeia, e vê a casa do seu pai lá embaixo. Lá está; a velha árvore de álamo em frente dela, e lá estão as pilhas de feno nas quais ele e seu irmão corriam e brincavam; e à vista da sua velha casa todos os sentimentos e lembranças da sua vida vieram a sua mente, e lágrimas correram de seus olhos e ele quase foge novamente.
Ele pensa: “Será que meu pai morreu? Como tive coragem de magoar tanto minha mãe? E se os dois estiverem vivos, eles nunca me receberão novamente; eles fecharão a porta na minha cara. O que estou fazendo? Eu não posso regressar e tenho medo de ir adiante”.
E enquanto ele estava decidindo, seu pai estava andando pela varanda superior, olhando para fora, para seu filho; e apesar dele não poder ver seu pai, seu pai podia vê-lo.
Bem, seu pai desce as escadas com toda sua força, corre até ele, e enquanto ele ainda está pensando em fugir, os braços do seu pai estão ao redor do seu pescoço, e ele o beija, como um pai amoroso, e então o filho começa:
– “Pai,pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” e, quando ele ia dizer “trata-me como um dos teus empregados”, seu pai pôs a mão na sua boca.
“Pare com isso”, diz ele; “Eu o perdôo; não diga nada sobre ser um criado. Venha”, diz ele, “entre, pobre pródigo. Ó!”, diz ele para seus criados, “trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado.
E começaram a regozijar-se”.
Agora, pródigo, faça o mesmo. Deus pôs isto em seu coração? Há muitos que têm fugido por muito tempo. Deus diz “retorne?” Ó, eu apelo a você que volte, então, pois tão certo quanto sempre, os que retornam Ele os acolherá. Nunca houve um pobre pecador que viesse a Cristo, que Cristo o mandasse embora. Se ele lhe mandasse embora, você seria o primeiro.
No entanto, Ele manterá sua palavra: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora“.
Autoria de Charles Haddon Spurgeon. Foi um pregador batista calvinista britânico. Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos textos bíblicos foi considerado extraordinário. Sua excelência na pregação das Escrituras Bíblicas lhe renderam o título de O Príncipe dos Pregadores e O Último dos Puritanos. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon.