Aliviando bagagem: a promessa do Salmo 23
Epígrafe: Salmo 23.
1. Introdução:
Você já viu um viajante? Pessoas cambaleando pelos terminais e vestíbulos de hotéis, com malas abarrotadas, baús, mochilas e sacolas. Dor nas costas. Pés ardendo. Pálpebras caídas.
Você já viajou sem bagagem? É difícil, quase impossível.
Mas, por que se é tão mais prático e indolor nada carregar? Por que você simplesmente não larga toda essa bagagem? É uma questão instintiva.
Em algum lugar entre o primeiro passo ao sair da cama e o último passo ao sair pela porta, você agarrou alguma bagagem.
Não se lembra? É porque você fez sem pensar.
Não se lembra de ter visto o terminal de bagagem? É porque a esteira não é aquela do aeroporto; é a da mente. E as malas que carregamos não são feitas de couro; são feitas de encargos.
A valise de culpa. Um saco de desgosto. Você acomoda a grossa sacola de fadiga sobre um ombro, e pendura a bolsa de aflição no outro. Adiciona uma mochila de dúvidas, mais a mala postal noturna de solidão, e um baú de temores. Logo você estará arrastando mais trastes que um carregador. Não admira que você esteja tão cansado ao final do dia. Puxar bagagem é exaustivo.
Deus está dizendo a você: “Arrie a carga. Você está carregando pesos que não tem de suportar”.
“Vinde a mim”, Ele convida, “todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Se nós lho permitirmos, Deus tornará mais leve o nosso fardo.
Porém, como permiti-lo? O Salmo 23 tem a resposta. Vamos analisá-lo.
2. Análise tópica do Salmo 23
2.1. “O SENHOR…” – Salmos 23.1.
Por que Davi escreveu o Salmo 23? Para edificar nossa confiança em Deus… para recordar-nos quem Ele é.
Neste salmo, Davi devota cento e cinco palavras para explicar essas duas primeiras: “O Senhor”. Na arena da bagagem desnecessária, o salmista começa com o mais pesado: o deus remodelado.
Quem é o Senhor? Quem é Deus?
Na visão humana, muitas concepções acerca de deus já surgiram. Exemplos:
– Um gênio na garrafa. Conveniente. Tudo o que você faz é esfregar a garrafa e puf – é seu. E, o que é ainda melhor, este deus volta para dentro da garrafa depois de fazê-lo e não exige muito.
– Um doce vovô. Tão coração-mole. Tão sábio. Tão bondoso.
– Um Pai, bastante ocupado.
Todas esses exemplos de concepções são muito falhas.
– Se o seu deus é um gênio na garrafa, você é mais importante que ele. Ele vem e vai ao seu comando. Um deus que parece agradável, mas realiza pouco.
– Um vovô bondoso é fraco demais para carregar as suas cargas e
– Um pai ocupado não tem tempo para as suas perguntas.
É esta a espécie de Deus que você quer? É esta a espécie de Deus que temos?
A resposta de Davi é um não retumbante. “Você quer saber quem Deus é realmente?”, pergunta ele. “Então leia isto”. E ele escreve o nome Yahweh. “Yahweh é o meu pastor”.
Davi escolheu Yahweh acima de El Shaddai (Deus Todo-poderoso), El Elyon (Deus Altíssimo), e El Olam (Deus, o Eterno). Estes e muitos outros títulos de Deus estavam à disposição de Davi. Não obstante, ao considerar todas as opções, ele escolheu Yahweh.
Por que Yahweh? Porque Yahweh é o nome de Deus; os demais são qualificações, títulos. Se você quer chamar Deus pelo nome dEle, diga Yahweh.
Ele se autodenominou assim.
Moisés foi o primeiro a aprender o nome de Deus. Sete séculos antes de Davi, o pastor de oitenta anos estava cuidando das ovelhas, quando o arbusto começou a arder, e a sua vida, a mudar.
Moisés recebeu ordens de voltar ao Egito e resgatar os hebreus escravizados. Ele apresentou mais desculpas que um garoto na hora de ir para a cama, porém Deus superou cada uma delas.
Finalmente, Moisés indagou:
“Eis que quando vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós”; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?”
Então Deus disse a Moisés: “EU SOU O QUE SOU. Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3.13,14).
Mais tarde, Deus lembraria a Moisés: “Eu sou Yahweh. Eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como El Shaddai; mas pelo meu nome Yahweh, não lhes fui perfeitamente conhecido” (Êx 6.2,3).
Esse nome era tão forte e poderoso que os israelitas consideravam o nome sagrado demais para ser pronunciado por lábios humanos. Sempre que precisavam dizer Yahweh, substituíam-no pela palavra Adonai, que significa “Senhor”. Se o nome precisava ser escrito, os escribas tomavam um banho antes de escrevê-lo e destruíam a pena depois de o haverem feito.
Deus nunca deu uma definição da palavra Yahweh, e Moisés nunca a pediu. Muitos estudiosos gostariam que ele o tivesse feito, pois o estudo do nome tem suscitado algumas discussões saudáveis.
O nome EU SOU soa notavelmente próximo do verbo hebraico ser “havah”. É possivelmente uma combinação da forma verbal presente (Eu sou) e do causativo (Eu causo o existir). Yahweh, então, parece significar “Eu sou” e “Eu causo”. Deus é “Aquele que é” e “Aquele que causa”.
Por que isto é importante? Porque precisamos de um Deus grande. E se Deus é “Aquele que é”, Ele é um Deus imutável.
Note que quando Ele diz “Eu sou”, não há necessidade de perguntarmos “O quê?”. Deus não precisa de nenhuma palavra descritiva, porque Ele nunca muda. Deus é o que é. Ele é o que sempre foi.
Sua imutabilidade motivou o salmista a declarar: “Mas tu és o mesmo” (Sl 102.27). O escritor está dizendo:
“Tu és Aquele que é. Tu nunca mudas”. Yahweh é um Deus imutável.
Ele é também um Deus incausado: Embora Deus crie, Ele nunca foi criado. Embora faça, Ele nunca foi feito. Embora cause, Ele nunca foi causado.
Daí a proclamação do salmista: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).
Estas são apenas uma fração das qualidades de Deus, mas não são o suficiente para dar-lhe um vislumbre de seu Pai?
Não precisamos deste tipo de pastor?
Não carecemos de um pastor imutável?
Você não tem de carregar a carga de um deus inferior… um deus sobre uma estante, um deus numa caixa, ou um deus numa garrafa.
2.2 “O SENHOR é o meu pastor” – Salmos 23.1
Por que Davi, ao chamar Deus de Pastor, se comparou a uma ovelha? De todos os animais de Deus, a ovelha é a menos capaz de cuidar de si própria.
Ovelhas são tolas! Você já conheceu um treinador de ovelhas? Já viu ovelhas fazerem truques?
Ovelhas são indefesas! Elas não possuem presas ou garras. Por isso, nunca se viu a associação desse animal a algum time ou equipe.
Quem se preocupa com ovelhas? Quem nota quando a ovelha canta, fala, ou atua? Apenas uma pessoa percebe: O pastor. E para Davi, é precisamente este o ponto principal.
Davi recordou-se dos seus dias como pastor; recordou-se de como dispensava atenção às ovelhas dia e noite. Ele dormia com elas e por elas velava. E o modo como ele cuidava das ovelhas lembrou-lhe o modo como Deus cuida de nós.
E por que há necessidade de que cuide de nós? Porque somos imperfeitos e fracos.
Nós, que somos tão autosuficientes por vezes, temos de reconhecer a nossa condição diante de Deus.
2.3. “Nada me faltará” – Salmos 23.1.
Davi encontrou a pastagem onde os descontentes vão morrer. É como se ele estivesse dizendo: “O que tenho em Deus é maior e o que não tenho na vida”.
Visualize todos os seus bens: Seus bens não são seus. Pergunte a qualquer embalsamador. Pergunte a qualquer diretor de casa funerária. Ninguém leva nada consigo.
“Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho que possa levar na sua mão” (Ec 5.15).
De todos estes bens, nada é seu. Além de não ser nada seu, você não se resume a esses bens, como disse Jesus: “A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15).
Deus não te conhece pela roupa que você usa; pelo carro que dirige; pela profissão que tem. Ele te conhece pelo seu coração! É o que diz o versículo: “O Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7).
Defina a si mesmo pelo que possui, e se sentirá bem quando tiver muito, e mal, quando não tiver. O contentamento vem quando podemos, honestamente, dizer como Paulo: “Já aprendi a contentar-me com o que tenho… Estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância quanto a padecer necessidade” (Fp 4.11,12).
O homem de Deus assim age.
2.4. “Deitar-me faz em verdes pastos; guia-me mansamente a águas tranqüilas e Refrigera a minha alma” – Salmos 23.2-3.
Todos esses versículos apontam para a mesma necessidade de davi e também de nós outros: o descanso.
A maioria dos animais sabe como descansar. Não os cachorros. Eles cochilam. Não os ursos. Eles hibernam. Os gatos inventaram a soneca, e o bicho preguiça descansa vinte horas por dia.
Já as ovelhas, não. Para uma ovelha dormir, tudo precisa estar muito bem. Nada de predadores. Nenhuma tensão no rebanho. Nenhum inseto no ar. Nenhuma fome no estômago. Tudo tem de estar perfeito.
Infelizmente, ovelhas não conseguem achar pastos seguros. Precisam de um pastor que “as guie” e as ajude a “deitar-se em pastos verdes”. Sem um pastor, elas não podem descansar.
Assim também somos nós. O homem é um animal que tem muita dificuldade em alcançar descanso. Prova disso é a insônia:
Ela aflige 70 milhões de americanos e é culpada de 38.000 mortes por ano.
A condição custa, anualmente, os U.S. $70 bilhões equivalente a produtividade.
Adolescentes sofrem deste mal. Os estudos revelam que 64% dos adolescentes responsabilizam-na pelo baixo rendimento escolar.
Pessoas de meia-idade a enfrentam. Os pesquisadores afirmam que os casos mais severos ocorrem entre trinta e quarenta anos.
Cidadãos mais velhos são afligidos por ela. Um estudo sugere que a condição atinge 50% da população com mais de sessenta e cinco anos.
Os tratamentos envolvem desde vigilantes do peso a chás de ervas.
Nossos corpos estão cansados. Se setenta milhões de americanos não estão dormindo o suficiente, o que isto significa? Que um terço do país está dormitando no trabalho, cochilando durante a aula, ou dormindo ao volante.
Trinta toneladas de aspirinas, tranqüilizantes e pílulas para dormir são consumidas a cada dia! O medidor de energia no painel de nossa testa anuncia: vazio.
Nossas mentes estão cansadas. Nossos corpos estão cansados. Porém muito mais importante, nossas almas estão cansadas.
Por essa razão, há tantas alusões na Bíblia ao tema cansaço e descanso. O próprio Sábado não é observado pelo homem e ele colhe os frutos desse descaso.
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou” (Êx 20.8-11).
O arco não pode estar sempre tenso sem temer quebrar. Para um campo produzir frutos, ele deve ocasionalmente descansar sem cultivo. E para que você seja saudável, deve descansar.
Diminua o ritmo, e Deus curará você. Ele trará descanso à sua mente, ao seu corpo, e, acima de tudo, à sua alma. Ele conduzirá você por verdes pastos.
Notemos o seguinte: Esses verdes prados foram especialmente preparados. Os montes à volta de Belém, onde Davi guardava o seu rebanho, não eram verdes e viçosos. Ainda hoje, eles são pálidos e tostados. Qualquer pasto verde na Judéia é trabalho de algum pastor. Ele limpou o terreno tosco e rochoso. Os tocos foram arrastados, e os galhos, queimados. Irrigação. Cultivo. Assim é o trabalho de um pastor.
Portanto, quando Davi diz: “Deitar-me faz em verdes pastos”, está dizendo: “Meu pastor me faz deitar em seu trabalho terminado”.
Com suas próprias mãos furadas, Jesus criou um pasto para a alma. Ele arrancou a espinhosa vegetação rasteira da condenação.
2.5. “Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome” – Salmos 23.3
Se Davi clamava por justiça, é porque nem mesmo ele, um homem tão agradável a Deus, era completamente justo. A Bíblia confirma isso:
“Não há um justo, nem um sequer” (Rm 3.10).
“Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.12).
No entanto, Deus é justo.
“…pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.1);
“Deus é um juiz justo” (Sl 7.11);
“O Senhor é justo e ama a justiça” (Sl 11.7);
A justiça de Deus “permanece para sempre” (Sl 112.3);
“está muito alta” (Sl 71.19);
Isaías descreve Deus como “Deus justo e Salvador” (Is 45.21); e
Na véspera de sua morte, Jesus começou sua oração com as palavras: “Pai justo” (Jo 17.25).
Mas, qual deve ser a nossa atitude diante de nossa injustiça? Carregar um fardo de culpa? Muitos o fazem.
Não, é preciso entregar o nosso fardo de culpa e injustiça a Deus. Ele já deu o primeiro passo por nós. “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3.18).
2.6.“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” – Salmos 23.4.
O que Davi está dizendo nesse verso?
O pastor não voltará para casa à noite. Ele não descansará em sua cama, e as ovelhas não dormirão em seu piquete cercado. É o dia de o pastor levar as ovelhas para o campo alto.
Hoje, ele encaminha o seu rebanho para as montanhas. Ele não tem outra escolha. O pastoreio da primavera deixou os seus pastos tosados, por isso ele precisa procurar novos campos. Sem outra companhia, que não as ovelhas, e sem outro anelo, que não o bem-estar delas, ele as guia para os espessos gramados das encostas. O pastor e o seu rebanho ir-se-ão por semanas, talvez meses.
Ficarão lá até o outono; até que a grama se acabe e o frio se torne insuportável.
Alguns pastores preferem a segurança dos pastos estéreis, embaixo. Mas o bom pastor não. Ele conhece o caminho. Ele palmilhou esta trilha muitas vezes. Além do mais, ele está preparado. Vara na mão e cajado preso ao cinto. Com a vara, ele tangerá o rebanho. o cajado, ele o protegerá e guiará. Ele o conduzirá para as montanhas.
Davi sabia disso. Davi compreendia esta peregrinação anual. Antes de comandar Israel, ele comandou ovelhas.
A mensagem subentendida de Davi é sutil, porém crucial. Quando os pastos estiverem tosados aqui embaixo, Deus nos levará lá para cima. Ele nos guiará através do portão, para fora das terras rentes, e subirá a trilha da montanha.
Deus disse a Moisés, Ele diz a você: “Irá a minha presença contigo para te fazer descansar” (Êx 33.14).
Deus disse a Jacó, Ele diz a você: “Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores” (Gn 28.15).
Deus disse a Josué, Ele diz a você: “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei” (Js. 1.5).
Deus disse à nação de Israel, Ele diz a você: “Quando passares pelas águas, estarei contigo” (Is 43.2).
O Bom Pastor está com você.
2.7. “Preparas urna mesa perante mim na presença dos meus inimigos” – Salmos 23.5.
Neste ponto do salmo, a mente de Davi parece estar se demorando no campo alto com as ovelhas. Havendo guiado o rebanho para o cimo da montanha, em busca de pastos mais verdes, ele recorda as responsabilidades adicionais do pastor.
Ele deve preparar a pastagem. O Pastor preparara a mesa.Esta é uma nova terra, então o pastor tem de ser cuidadoso. O ideal é que a área do pastoreio seja plana, uma planície ou um planalto. O pastor investiga se há plantas venenosas e correntezas fortes. Verifica se há sinais de lobos, coiotes e ursos.
De especial interesse para o pastor é a víbora pequena e marrom, que vive sob o solo. Estas cobras são conhecidas por disparar para fora de suas covas e picar a ovelha no focinho. A picada geralmente infecciona, e pode até matar. Como defesa contra elas, o pastor despeja um círculo de óleo no topo de cada buraco de cobra. Ele também aplica o óleo no focinho dos animais. O óleo na cova lubrifica a saída, impedindo que a cobra suba para fora. O cheiro do óleo nos focinhos das ovelhas espanta as víboras. O pastor, num sentido bem real, preparou a mesa.
E se o seu Pastor fizer por você o que o pastor fez por seu rebanho? Na véspera de sua morte, Jesus preparou uma mesa para os seus discípulos. Não apenas isto, mas Ele também tratara com as cobras. Você se lembrará que somente um dos discípulos não terminou a refeição naquela noite.
“Tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse” (Jo 13.2). Judas começou a comer, porém Jesus não o deixou acabar. Sob o comando de Jesus, Judas deixou a sala. “O que fazes, faze-o depressa… E tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite” (Jo 13.27,30).
Jesus preparou a mesa na presença do inimigo. A Judas foi permitido ver a ceia, mas não lhe foi permitido ficar lá.
Aos demais, disse “Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26.27,28).
“Bebei dele todos”.
Aquele que se sente indigno, beba-o.
Aquele que se sente envergonhado, beba-o.
Aquele que se sente embaraçado, beba-o.
2.8.”Unges a minha cabeça com óleo” – Salmos 23.5.
No antigo Israel, os pastores usavam o óleo para três propósitos: repelir insetos, evitar conflitos, e curar machucados.
Insetos apenas aborrecem as pessoas, mas podem matar as ovelhas. Moscas e mosquitos podem tornar o verão um período de tortura para o rebanho.
Pense nas moscas no focinho, por exemplo. Se acontecer de elas depositarem seus ovos na macia membrana do nariz da ovelha, os ovos tornam-se larvas que deixam insana a ovelha.
Por esta razão, o pastor unge as ovelhas. Ele cobre suas cabeças com um óleo repelente. A fragrância mantém os insetos em apuros e o rebanho em paz.
A maioria dos machucados tratados pelo pastor é o resultado da vida no pasto. Espinhos furam, pedras cortam, ou uma ovelha esfrega a cabeça com demasiada força contra uma árvore. Ovelhas se machucam.
Conseqüentemente, o pastor inspeciona diariamente as ovelhas, à procura de cortes e escoriações. Ele não quer que o corte piore. Não quer que o ferimento de hoje se torne a infecção de amanhã.
Nem Deus quer. Assim como as ovelhas, temos machucados, mas os nossos são ferimentos do coração que vieram de um desapontamento após outro. Se não tomarmos cuidado, estes ferimentos transformam-se em amargura.
E então, a exemplo das ovelhas, precisamos ser tratados. “Foi ele, e não nós, que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto” (Sl 100.3).
2.9. “O meu cálice transborda.” – Salmos 23.5.
Um cálice transbordante é um cálice cheio?
Absolutamente. O vinho atinge as bordas e derrama-se pelas beiradas. A taça não é grande o suficiente para conter a quantidade.
De acordo com Davi, nosso coração não e grande o suficiente para conter as bênçãos que Deus nos quer dar. Ele despeja e despeja, até que elas literalmente fluam por cima da borda e se derramam sobre a mesa.
O modo de Deus é sempre caracterizado por numerosa e transbordante generosidade. A última coisa com que devemos nos preocupar é com não ter o suficiente. Nosso copo transborda de bênçãos.
2.10. “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida” – Salmos 23.6
Ele é um Deus seguro; daí certamente.
E o que vem depois da palavra certamente? “Bondade e misericórdia”.
Se o Senhor é o pastor que guia o rebanho, bondade e misericórdia são os dois cães pastores que guardam a retaguarda do rebanho.
Se esta dupla não reforça a sua fé, tente esta frase: “todos os dias da minha vida”.
2.11. “E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”. – Salmos 23.6
Onde você habitará para sempre? Na casa do Senhor.
Se a casa dEle é a sua “casa eterna”, o que faz esta casa terrena? Ela é Moradia a curto-prazo.
Esta não é a nossa casa.
3. Conclusão:
Você tem alguma bagagem? Você acha que Deus pode usar o salmo de Davi para aliviar-lhe a carga?
Viajar sem bagagem significa confiar a Deus as cargas para as quais você não foi destinado.
Como você pode partilhar graça, se está cheio de culpa?
Como pode oferecer conforto, se está desalentado?
Como levantar a carga de alguém, se os seus braços estão carregados com a sua própria?
Por aqueles a quem você ama, viaje sem bagagem.
Pelo Deus a quem você serve, viaje sem bagagem.
Para sua própria alegria, viaje sem bagagem.
Descansar da carga de um deus pequeno. Por quê? Porque achei o Senhor.
Descansar de fazer as coisas do meu modo. Por quê? Porque o Senhor é o meu Pastor.
Descansar das necessidades infindáveis. Por quê? Porque nada me faltará.
Descansar das fadigas. Por quê? Porque Ele me faz descansar.
Descansar da preocupação. Por quê? Porque Ele me conduz.
Descansar do desespero. Por quê? Porque Ele refrigera a minha alma.
Descansar da culpa. Por quê? Porque Ele me guia pela vereda da justiça.
Descansar da arrogância. Por quê? Por amor do seu nome.
Descansar do vale da morte. Por quê? Porque Ele me leva através dele.
Descansar da sombra da aflição. Por quê? Porque Ele me guia.
Descansar do medo. Por quê? Porque a sua presença me conforta.
Descansar da solidão. Por quê? Porque Ele está comigo.
Descansar da vergonha. Por quê? Porque Ele preparou para mim uma mesa na presença dos meus
inimigos.
Descansar dos meus desapontamentos. Por quê? Porque Ele me unge.
Descansar da inveja. Por quê? Porque meu cálice transborda.
Descansar da dúvida. Por quê? Porque Ele me segue.
Descansar da saudade. Por quê? Porque habitarei na casa do meu Senhor para sempre.
E amanhã, quando, pela força do hábito, você pegar de volta a sua bagagem, largue-a de novo.
Deponha-a outra vez e novamente, até aquele doce dia em que você descobrirá que não a está pegando de volta.
Estudo inteiramente extraído do livro “Aliviando bagagem”, de Phillip Yancey.
Phillip Yancey é escritor e jornalista cristão americano. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Philip_Yancey