As sete raposinhas
Epígrafe
Cantares 2:15: “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas; pois as nossas vinhas estão em flor.”
1. Introdução:
Salomão menciona o malefício que as raposinhas fazem às vinhas. Mas, o é que “Raposinha”?
“Raposinha” é nome dado à planta que nasce junto à videira.
Tm um aspecto semelhante à videira, mas não é videira. Pelo contrário, são altamente danosas e até mortais a plantação de uvas, impedindo o crescimento sadio da videira e levando-a à esterilidade.
Por serem parecidas com a parreira, são difíceis de identificar, sendo preciso a ajuda de um viticultor experiente. Se não forem arrancadas, infestam toda a plantação, sufocando a videira e acabando com ela!
Imaginando que a parreira de uva seja a nossa vida, o que seriam as “raposinhas”?
Pecados ou pequenos problemas, que impedem o nosso crescimento espiritual. Pecados sutis que, por se tornarem prática no dia-a-dia, são definidos como maus hábitos, e não como pecados. Se não crescemos, regredimos. Mas, algumas atitudes nossas vistas à luz da Palavra deixam de ser vistas de maneira LEVE; precisamos encará-las como pecados que desagradam e entristecem profundamente a Deus.
O presente estudo abordará sete raposinhas que andam devastando os vinhedos da espiritualidade da Igreja em nossos dias.
2. As raposinhas devastadoras:
2.1. A Raposinha da Instantaneidade:
Vivemos em um mundo extremamente rápido, com acontecimentos rápidos, tudo tem que ser rápido e instantâneo, para ser sinônimo de eficaz.
O imediatismo tomou conta de todas as formas de pensar e agir social de nosso meio, isso tem afetado drasticamente a Igreja e o modo de viver dos cristãos desta geração.
Paulo disse em Gálatas 4:19 “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”. Aqui Paulo usa o advérbio (palin), sempre quando usado junto com verbo no presente, dá a idéia de intensidade e esforço contínuos, até ser alguma coisa (a tarefa) completamente terminada.
A vida cristã, portanto, não vêm em kits prontos, como lanche do Mcdonald´s, ou esfihas do Habib’s.
Hoje, muitos aspiram ter o poder sem pureza, isso significa que querem o resultado final, o ‘dunamis’ de Deus, sem pagar o preço, que é uma vida inteira no altar de Deus.
Outros estão buscando popularidade e notoriedade sem buscarem profundidade de caráter.
Muitos querem benefícios sem preço, sem implicações de compromisso.
Outros querem crescimento sem alicerces.
Muitos querem apenas ‘adoração’, mas a verdadeira adoração é com doutrina, sem doutrina adoração é vazia e falsa.
No entanto, as coisas espirituais são adquiridas com esforço e luta. Devemos tomar cuidado de querer tudo às pressas. Jesus preparou-se durante trinta anos para ter apenas três de ministério!
Cuidado com essa raposa que tem destruído a vida do esperar e demorar na presença de Deus. Deus.
II PEDRO 3:8-9 > “No entanto, não vos escape este único fato, amados, que um só dia é para Jeová como mil anos, e mil anos, como um só dia. 9 Jeová não é vagaroso com respeito à sua promessa, conforme alguns consideram a vagarosidade, mas ele é paciente convosco, porque não deseja que alguém seja destruído, mas deseja que todos alcancem o arrependimento”.
2.2. A Raposinha da Superficialidade:
Ao adentrarmos pela primeira vez muitas igrejas, ouviremos brados de que o Espírito
Santo está ali e que agora o poder de Deus irá se manifestar de uma forma espantosa. Colheremos os louros da fama e um alvoroço histérico.
Mas, o que mais, de fato, encontraremos lá? Somente momentos. Vive-se o momento ali dentro; a programação x ou y, mas ao sairmos dali, nada mais encontraremos de diferente na vida de seus membros.
Só que Deus quer nos tirar do circulo vicioso da superficialidade. Ele nos deu uma nova vida para a vivermos de forma profunda e enraizada; um cristianismo verdadeiro e genuíno e não um cristianismo da moda.
O Senhor tirou os israelitas do Egito e da superficialidade do deserto e os fez adentrar uma terra grande, que dava muitos frutos.
Deuteronômio 8:7-10: “Porque o SENHOR teu DEUS te faz entrar numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, de mananciais profundos, que saem dos vales e das montanhas; Terra de trigo e cevada, de vides, figueiras e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel; Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes cavarás o cobre. Comerá e te fartarás, e louvarás ao SENHOR teu DEUS pela boa terra que te deu”.
2.3. A Raposinha da Ociosidade:
Estar ocioso é estar desocupado, acomodado, sem procurar ou se dispor para o trabalho ou alguma maneira de ser útil. Promove falta de produtividade material e espiritual.
Qual é a pior conseqüência ao preguiçoso? Ele não se aliementa, não colhe os frutos de seu trabalho. “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão” (2 Tessalonicenses 3:10-12).
Em contraste à realidade do pereguiçoso, vemos as formigas. A formiga trabalha sem ser mandada, e se prepara para os dias de escassez.
Por isso, a advertência em Provérbios 6:6-8 “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tende ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento” .
Assim, o preguiçoso leva uma igreja à ruína, pois não apenas não produz, como contamina todos ao seu redor com seus maus hábitos. Pv 19:15: “A preguiça faz cair em profundo sono, e a alma indolente padecerá fome.”
Essa é uma triste raposinha que tem minado as forças da Igreja!
2.4. A Raposinha da Superioridade:
Esse é o grande mal que tem atingido muitas vidas a soberba, a arrogância e o sentimento de superioridade. O orgulho nos leva à destruição.
O maior exemplo é Nabucodonosor. Ele viu tudo o que tinha feito e não deu glórias ao Nome Eterno do Senhor. Seu destino? Inclinar-se como um animal e pastar. Vejamos:
Daniel 4:27-34: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e põe termo, pela justiça, em teus pecados e em tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue a tua tranqüilidade. Todas estas coisas sobrevieram ao rei Nabucodonosor. Ao cabo de doze meses, passeando sobre o palácio real da cidade de Babilônia, falou o rei e disse: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade? Falava ainda o rei quando desceu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Já passou de ti o reino. Serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; e far-te-ão comer ervas como os bois, e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. No mesmo instante, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de entre os homens e passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves. Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração”.
Paulo nos adverte que devemos tomar cuidado quanto à intensidade do que pensamos sobre nós mesmos, em 2 Coríntios 3:5: “não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus”.
Isto também está em Romanos 12:3: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.
Certa feita, Jesus propôs uma parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: o publicano e o fariseu . Vamos explorar um pouco mais esse tema.
“Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: “Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: “Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.9-14).
Quem eram os fariseus? Apesar da má fama, convém esclarecer quem eram os fariseus.
• Em primeiro lugar, os fariseus, ao contrário dos saduceus, tinham uma boa profissão de fé: “Pois os saduceus declaram não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito; ao passo que os fariseus admitem todas essas coisas” (At 23.8). Os fariseus, portanto, criam na ressurreição e, portanto, acreditavam na vida eterna.
• Em segundo lugar, foi um fariseu que certa vez convidou Jesus para jantar: “Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa” (Lc 7.36).
• Em terceiro lugar, foram os fariseus que advertiram o Senhor Jesus das intenções do rei Herodes. Lemos em Lucas 13.31: “Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te”.
• Em quarto lugar, na igreja primitiva havia também fariseus que, apesar dos seus muitos erros, chegaram à fé viva no Senhor Jesus Cristo: (At 15.5) “Foi então que alguns dos homens que tinham sido fariseus antes de se converterem. Estes eram realmente alguns que se haviam convertido do farisaísmo corrompido.
• Em quinto lugar, um dos maiores apóstolos e evangelistas, ninguém menos que Paulo, era originário do grupo religioso dos fariseus. Paulo sempre confessava este fato com toda a franqueza. Ele mesmo disse que havia estudado com um dos fariseus mais conceituados e rigorosos de sua época.
Apesar de terem pontos positivos, há uma característica marcante de um fariseu, que Jesus mencionou muitas vezes: a hipocrisia. Isto em razão da sua grande erudição.
Os fariseus realmente tinham grande conhecimento, mas justamente por isso se tornaram hipócritas e cheios de si, pois lhes faltava o amor ao próximo. Ao invés dessa enorme erudição conduzi-los à verdade, grande parte deles seguia por um caminho totalmente errado. E por lhes faltar amor ao próximo, não conseguiam reconhecer suas culpas e pecados diante dos outros e do próprios Deus.
Já o publicano era pouco instruído e pouco sabia; mas, tinha o conhecimento mais maravilhoso que uma pessoa pode ter: reconhecia a sua condição de pecador. Por isso, o publicano, como Jesus disse, pôde voltar “justificado para sua casa”, mas o presunçoso fariseu não.
A nossa suficiência deve vir de Deus e não de nós mesmos . É Deus quem nos justifica e não nós mesmos…. Muitos líderes, ministros, homens e mulheres têm caído nessa falácia de acharem que só eles tem o poder de tal coisa, o dom disso, a virtude daquilo e que sem eles a obra não será feita.
Em muitos lugares, a fama tem substituído o conteúdo; o talento tem substituído a piedade e o estrelismo humano tem substituído o caráter. Não deixemos que a raposa da superioridade estrague nossa vinha.
2.5. A Raposinha da Sensualidade:
Oséias 4:11: “A sensualidade, o vinho e o mosto tiram o entendimento”.
Efésios 5:18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”.
Alguém embriagado é alguém que é abandonado à sensualidade e dissolução; ele se torna influenciado, governado ou controlado pela bebida, e como resultado, age de maneira vergonhosa.
Existem muitos que estão sem “entendimento”, porque estão envolvidos, embriagados e entorpecidos por ênfases, modismos, tendências e pelo espírito deste tempo. Esse é o tipo de embriaguez espiritual em que perdemos o controle de nós mesmos. Não há em nós domínio próprio ou autocontrole.
Infelizmente, essa raposa terrível tem destruído silenciosamente ministros de Deus, igrejas, famílias, relacionamentos, vidas e comunidades inteiras.
2.6. A Raposinha da Vulgaridade:
O dicionário define vulgar como: “relativo ao vulgo; comum; frequente; usual; trivial; usado; ordinário; medíocre; notório; impressivo”.
Existe um vento avassalador de vulgaridade no seio da igreja em nossos dias, a igreja em muitos lugares tem perdido sua condição e autoridade de sal e luz, tem perdido a sua voz profética.
Pecado, arrependimento, pureza e santificação, cruz, sangue e abnegação não são mais assuntos cotidianos em muitos púlpitos, que preferem os louros da fama e as vicissitudes da moda.
Há novos métodos de trabalho, organizações modernas e de crescente pujança. É muito fácil, portanto, ficarmos confuso com tantos métodos, organizações, doutrinas e filosofias. Isso é reflexo do mundo moderno na igreja.
Infelizmente, isso nos remete a odiosos métodos de crescimento de igrejas, em que Igrejas são equiparadas a negócios. Um negócio é motivado pelos resultados. Todas as ações concorrem para um determinado resultado esperado e se este resultado não se concretiza, abandonam-se as ações de imediato. Se uma loja, ou filial, não dá lucro, fecha-se a loja. Deveríamos, por analogia, fechar igrejas que não têm futuro, sob nossa perspectiva humana?
A lógica de Deus é completamente outra. A lógica de Deus não é vulgar como essa. Ele fez as coisas simples para confundir as mais sábias.
Devemos, portanto, cuidar para não nos afastarmos da simplicidade e pureza, como diz Paulo em 2 Coríntios 11:3: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo”.
E também em Colossenses 2:8: “Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”.
2.7. A Raposinha da Murmuração:
Murmurar é queixar-se ou reclamar em voz baixa, falar mal de alguma coisa, censurar. Maldizer alguma coisa ou circunstância como fruto de insatisfação ou descontentamento.
O exemplo mais clássico foi o que aconteceu com o povo de Israel, após a saída do Egito. Em Êxodo 16:2, depois de apenas 1 mês e quinze dias, eles iniciaram a murmuração contra Deus: “Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do SENHOR, na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne e comíamos pão a fartar! Pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome toda esta multidão.” Murmuraram pela fome e Deus os alimentou por maná, que caiu durante quarenta anos.
Depois, eles murmuraram de sede (Êxodo 17). “Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós e aos nossos filhos, e ao nosso gado?”. E Deus mandou que Moisés ferisse a rocha para que dela saísse água e o povo bebesse.
Ainda assim, depois de tantos benefícios, eles continuaram a murmurar continuamente diante de Moisés e consequentemente, diante do seu Deus, pois era Ele quem cuidava deles.
Até que o Senhor se irou contra eles e disse: “Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim” (Nm 14;26).
O povo murmurou tanto que Deus impediu que os que possuíssem mais de vinte anos entrassem na terra de Canaã, com exceção de Calebe e Josué.
Por quê? A murmuração tem sua raiz na ingratidão. A murmuração é fruto da incredulidade. É faltar com confiança em Deus.
I Tessalonicenses 5;12 a 22: “Fazei tudo sem murmuração nem contentas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros , filhos de DEUS inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo…”.
Em tudo devemos dar graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para conosco, diz I Tessalonicenses 5:18.
Estudo redigido por Juliana Silveira, com base no livro: “As sete raposinhas”, de Paulo Bueno e sites diversos.
Paulo Bueno é pastor, conferencista, escritor, professor de Sistemática e Línguas Originais, líder na América do Sul da Missão Navegadores, bacharel em teologia pelo Janz Team. Mais informações em: https://www.escavador.com/sobre/7054721/paulo-alves-bueno .