As seis vestes de José
Epígrafe: Gen. 37:1-3; 4-11; 18-23 e 39:1-5.
Hoje, falaremos sobre Vestes. Qual o significado de vestes na Bíblia?
Em diversas passagens, a Bíblia cita o termo “vestes”. Vejamos alguns exemplos:
• Jacó rasgou suas “vestes” ao descobrir que José havia sido devorado por uma fera;
• Em diversas oportunidades, quando pretendiam humilhar-se na presença de Deus, os israelitas vestiram-se de saco e cobriram-se de cinzas;
• A Bíblia fala das vestes brancas dos escolhidos.
O que há de comum entre essas passagens?
Em todas elas, há uma relação direta entre vestes e o estado de espírito dos personagens ou à sua atitude diante de Deus.
Analisaremos nesse estudo as diversas atitudes que José apresentou durante sua vida perante o Grande “Eu sou”. Mais do que isso: veremos que as seis vestes de José representam cada uma das fases da vida do cristão!
1ª Veste: A Veste natural de José – Gen. 37:1-3.
Nessa passagem, vemos que José utilizava a primeira veste, a veste originária típica de todos nós seres humanos. Ele tinha 17 anos e entre todos os irmãos era o mais amado de todos pelo seu pai Jacó.
A primeira veste é a natural, a de um filho jovem e inexperiente. Essa é também a primeira fase da vida do cristão, fase em que somos verdadeiros bebês na fé. É momento em que se engatinha e nos alimentamos de leite espiritual. Não é possível ainda comer alimento sólido, como diz o Apóstolo Paulo.
Disso é possível extrair uma conclusão importante: Deus, em geral, escolhe os pequeninos, os inexperientes, os que aos nossos olhos, são os menos preparados. O próprio Apóstolo Paulo diz que Ele escolhe as coisas loucas desse mundo para confundir os sábios (I Coríntios 2:14). Isso é prova de que Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.
No específico caso dos filhos de Jacó, Ele não escolheu, para o grande propósito que descobrimos nos capítulos subseqüentes de Gênesis, Rubem, o filho mais velho; pelo contrário, escolheu alguém jovem e inexperiente, cuja máxima distância que talvez houvesse percorrido da casa de seu pai era alguns poucos kilômetros. Em outra ocasião, ele escolheu também um simples e jovem pastorzinho de ovelhas para ser o Rei de Israel (I Samuel 16:11-13).
Vamos analisar algumas características das vestes primeiras de José. Nesses primeiros versículos que descrevem as vestes iniciais de José, não há referência expressa ao fato de que Deus era com José. José estava no início de sua caminhada e ainda é provável que não tivesse grandes sonhos ou pretensões diferentes daqueles que lhe rodeavam. Ele tinha como parâmetro seus irmãos, todos pastores de ovelhas e talvez ainda nesse momento não quisesse ser mais do que eles. Isso é típico de quem está no início da jornada e não sabe o que vem pela frente.
2ª veste – As vestes coloridas – Gen. 37: 3, in fine.
No versículo acima citado, notamos uma modificação considerável da situação de José: de possuidor de vestes naturais, ele passa a ter vestes coloridas, segundo a Bíblia.
Notem que foi Jacó quem teceu essa veste a José: era uma túnica longa e de várias cores. Façamos uma análise um pouco mais profunda:
– Túnica comprida: ainda hoje as roupas são feitas para se adequarem às situações da vida e ao estilo de cada um.
Naqueles tempos, o grande móvel dos homens era o trabalho e um trabalho braçal e árduo de retirar da terra e da natureza, em geral, o que necessário à sobrevivência.
Sob este raciocínio, não fica difícil imaginar que uma veste muito longa pudesse atrapalhar o trabalho de pastorear ovelhas, o que indica que, muito provavelmente, Jacó tivesse outros planos para seu filho. Jacó, inspirado pelos futuros propósitos que Deus tinha para seu filho, sonhava em ver José não como pastor de ovelhas; por isso, teceu com suas próprias mãos a longa túnica para seu filho.
– Túnica colorida: notemos que a túnica de José tinha várias cores. É necessário ter a percepção do seguinte fato: no passado, não era nada fácil produzir roupas coloridas, pois não havia “tecnologia” para isso. Para fazer uma túnica com uma cor diferenciada, quando possível, era preciso buscar extratos de sementes ou outros produtos naturais em lugares longíquos. Além disso, era uma tarefa bastante onerosa: somente pessoas com um pouco mais de posses conseguiam financiar esse tipo de “luxo”.
Percebemos, portanto, que esse presente de Jacó significava que José tinha uma posição especial e privilegiada no coração de Jacó. Mais do que isso, a túnica colorida tem uma simbologia: significavam os sonhos de Deus para vida de José.
Ora, as diversas cores da túnica de José simbolizavam exatamente isso: os lindos e multicores sonhos de Deus para sua vida. É o que concluímos a partir de Gen. 37:4-10, pois o próprio José passa a ter ciência dos propósitos a ele reservado.
Para o cristão a quem ofertada a longa e colorida túnica, há também uma posição especial e diferenciada no coração de Deus. Não é que Deus faça acepção de pessoas, mas Ele tem planos diferentes para cada um de nós, de acordo com a peculiar capacidade de cada qual. Com base nessa medida, Ele concede sonhos diversos a cada um.
No entanto, há sempre quem queira “jogar areia” os sonhos que Deus nos concede. Neste episódio, essa ação vem simbolizada pela inveja dos irmãos de José, que, após terem conhecimento dos sonhos que José havia tido, passaram a tramar contra sua vida.
Num dia determinado, seus próprios irmãos aramaram uma cilada a José: atiraram-no em um poço, arrancaram a túnica tecida por Jacó, e o venderam a mercadores (Gen. 37: 26-32).
De todas as formas, queriam arrancar a túnica dos sonhos de José…
3ª veste: De volta às vestes naturais (Gen. 37: 26 e seguintes).
Sendo alijado da túnica tecida por seu pai Jacó, com tanto carinho, José voltava a usar vestes normais. Assim também ocorre na vida do cristão.
Após o momento em que ocorre a verdadeira conversão a Cristo, e que vestes especiais lhe são ofertadas, ao crente começam a ser mandadas diversas provações.
Assim também foi com José: Até então, Deus era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas ainda não era o Deus de José. Era necessário passar pelo caminho da humilhação, hábil a lhe preparar para que viesse a ser grande aos olhos de Deus.
4ª veste: As vestes nobres (Gen. 39:1-6).
Após ter sido vendido a mercadores por seus próprios irmãos, a Bíblia relata que José foi levado ao Egito, onde novamente foi trocado. A Bíblia relata que José passou a ser servir na casa de Potifar, um nobre egípcio. Mais maduro e experiente, José não apenas cresceu em estatura, mas passou a ser homem, alimentando-se de comida sólida. Foi quando veio a prosperar.
Potifar era capitão da guarda de Faraó, um homem bastante influente à sua época. José veio a achar graças aos olhos exatamente desse homem, tanto que foi colocado sobre sua casa e tudo mais quanto fosse de posse de Potifar.
Aparentemente, tudo ia bem e José estava no auge de sua vida, se tivermos como base comparativa a situação em que se encontravam seus irmãos. Quem poderia imaginar que um rapaz sonhador, que fora vendido com a intenção de ser tornado escravo, pudesse chegar tão longe?
Mais ainda: neste momento em específico, a Bíblia diz expressamente: “O Senhor estava com José e tudo quanto fazia, o Senhor prosperava em suas mãos”. A partir daqui, vemos que Deus começou a ser verdadeiramente o Deus de José, trajando-o com vestes de honra.
5ª veste: As vestes de humilhação (Gen. 39:7-12).
Após anos e anos de uso das vestes de honra e respeito, José estava tranqüilo e, quando menos esperava, foi surpreendido.
A mulher de Potifar, inebriada da beleza de José, planejou tomá-lo por amante. Mas, José, íntegro e honesto, lutou contra sua natureza humana, resistindo ao desejo que lhe consumia. José era um servo fiel e a última coisa que desejava era ser ingrato para com aquele que lhe cumulara com tantos favores.
No entanto, rejeitada e não correspondida em seus sentimentos, a mulher de Potifar armou uma situação para conduzir a honra de José à lama. Arrancando as vestes da honra, aquela mulher passou a acusar José de adultério, de sedução e infidelidade, o que o conduziu diretamente à prisão.
Para quem estava trajado com as mais finas vestes, José agora não apenas usava as vestes normais, mas as vestes da humilhação. Ele poderia até pensar que estava preparado e em paz, mas não tinha a consciência de que outras provas o aguardavam, pois era mister o aprimoramento de seu caráter. Não era o auge; José estava no meio do caminho, entre cauda e cabeça.
Ademais, o alavancamento dos planos de Deus para o seu povo deveria ocorrer. O destino de toda uma nação estava depositado nas mãos de José e dependia de como ele agiria!
Na prisão, afigura-nos da narrativa que José foi esquecido: esqueceram-se do bem que havia feito e da fidelidade que havia guardado até então para com seus senhores.
Além disso, seus próprios companheiros de cela, a quem muito ajudou, esqueceram-se de mencionar seu nome na presença de Faraó. Em Gen. 40: 14 e 23, a Bíblia relata que José decifrou os sonhos tanto do copeiro-mor, quanto do padeiro-mor de Faraó e que tudo sucedeu exatamente como ele havia dito: um deles morreu e o outro foi perdoado e reconduzido a sua posição na casa de Faraó.
Apesar de José ter implorado que dele se lembrasse na saída da prisão, seu companheiro fez exatamente o contrário, vindo a cumprir sua promessa apenas dois anos mais tarde. Enquanto isso, lá ficou José, esquecido, desonrado e humilhado….
Parece haver momentos em que Deus se cala e não anda ao nosso lado. Não vemos os passos de Jesus ao lado das nossas pegadas na areia…Talvez tenha sido esse o sentimento de José na prisão e o nosso próprio, em muitos momentos de nossa vida.
Todavia, devemos ter a consciência de que são nessas horas que Ele está nos carregando. Por isso é que somente conseguimos enxergar um par de pegadas na areia….
6ª veste: As vestes nobres.
Foi por ocasião da necessidade de desvendamento dos sonhos que o próprio Faraó havia tido. Nenhum sábio daquela nação conseguia decifrar satisfatoriamente o significado dos sonhos, quando então o companheiro de José lembrou-se dele e contou a todos o que havia acontecido na prisão. O tempo de Deus havia chegado.
Em Gênesis 41:1 e 8-14, vemos como foi o desfecho dos planos de Deus para a vida de José.
Após ser reconduzido à corte de Faraó, José não apenas decifrou os sonhos de Faraó, como também lhe deu idéias de como driblar a crise alimentar que se aproximava daquela região. Faraó, então, mandou que imediatamente os vestidos de José fossem trocados; ele passou então a usar nobres vestes e um anel em seu dedo direito. De pastor de ovelhas, escravo, administrador da casa de um servo de Faraó, encarcerado, José passou a ser vizir do Egito!
De fato, Deus cumpriu a sua promessa, elevando José à máxima posição que alguém de linhagem não real poderia alcançar no Egito naqueles tempos.
Tudo graças aos talentos concedidos por Deus a José: ele revelou-se um exímio administrador e aconselhou Faraó a dobrar a sua produção para que o excesso fosse estocado. E assim sucedeu.
Durante sete anos, anos de abastança, víveres foram guardados nos celeiros reais. Quando chegaram as épocas de “vacas magras”, já preditas por José, inspirado por Deus, foi graças a essa atitude que os habitantes do Egito não morreram de fome.
Na verdade, devemos enxergar muito além. A Bíblia relata ainda que foi graças a essa atitude que o último resquício da linha hebraica de Abraão e Isaque foi salvo: com a fome que grassava no Egito, Jacó e seus filhos, para sobreviver, tiveram de vir ao Egito para se abastecer de víveres. Foi quando, após uma série de situações, os irmãos de José e o próprio Jacó, apesar das muitas diferenças, reconheceram José….
Tudo o que narramos teve o condão de trazer a família de José para perto dele e salvar o povo escolhido de Deus, que viveu no Egito durante quatrocentos e trinta anos….
Conclusão:
Assim, vemos que a vida do cristão verdadeiro não é um mar de rosas; ele é constantemente submetido a provações.
O cristão verdadeiro pode cair até sete vezes, mas em todas elas se levanta (Eclesiático), pois sabe que há planos e propósitos ainda maiores reservados por Deus a sua vida….
Autoria desconhecida.