Raquel, a esposa amada
Raquel, cujo nome significa “ovelha”, estava cuidando dos rebanhos de seu pai em Harã, quando encontrou um visitante inesperado, seu primo Jacó, que estava procurando a sua família. Depois do que parece ter sido amor à primeira vista (Gn 29.11-12), Jacó prometeu a Labão, pai de Raquel, que trabalharia sete anos para ganhar o direito de casar-se com a bela pastora (Gn 29.20).
A cerimônia de casamento correu de acordo com as tradições locais, em que o homem participava da festa, enquanto a noiva era mantida longe da vista até que o esposo entrasse na tenda escura. Somente quando era tarde demais Jacó percebeu que Labão o havia enganado. Tinha, na verdade, se casado com Lia, a filha mais velha de Labão, a quem não amava. Raquel devia estar angustiada. Sete anos de expectativa foram jogados fora por seu ardiloso pai. A rivalidade e o ciúme entre Lia e Raquel ou talvez o desejo de vingança contra seu pai por essa decepção devem ter desgastado a família.
Além disso, Raquel era estéril (Gn 29.31), aumentando ainda mais seu ciúme de Lia (Gn 29.31). Ela culpou o marido e permitiu que sua serva gerasse filhos por ela. Finalmente, engravidou e deu à luz José, que se tornou o favorito de Jacó (Gn 30.22-24).
No devido tempo, Jacó decidiu voltar à sua terra natal. Depois de sua partida, Labão descobriu que seus ídolos do lar haviam sumido. Sem Jacó saber, Raquel havia escondido os deuses nas sacolas de bagagem carregadas pelos camelos, sentando-se sobre elas. Quando Labão teve permissão de fazer uma busca no meio dos pertences dela, Raquel fingiu estar fraca por causa de seu período menstrual e não desmontou do camelo. Mais tarde, a mulher menstruada foi descrita na lei como imunda (Lv 15).
Essas pequenas imagens eram costumeiramente mantidas nas casas. Eram evidência indispensável para a reivindicação da herança familiar, mas alguns acreditam que Raquel era secretamente adepta de uma crença pagã supersticiosa. Se isso é verdade, ela deveria crer que aquelas imagens Ihes dariam proteção na viagem e prosperidade na nova casa.
Raquel voltou para a terra natal do marido, mas, algum tempo depois, mudaram-se novamente, e ela engravidou uma segunda vez. A viagem por terreno montanhoso seria difícil em qualquer circunstância. Ao aproximarem-se de Efrata (Belém), Raquel entrou em trabalho de parto e morreu durante o nascimento de Benjamim. Foi enterrada em Belém (Gn 35.19). Raquel, grandemente amada por seu marido, deu ao mundo dois filhos que se destacaram. Apesar de suas faltas, é tida como honrada filha de Javé.
Extraído de:
A Bíblia da Mulher: Leitura, Devocional e Estudo, v. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Ed. Mundo Cristão e Sociedade Bíblica do Brasil, p. 50.
Para ilustrar ainda mais o grande amor que Jacó sentia por Raquel, transcrevemos o poema de Luís de Camões:
“Sete anos de pastor Jacó servia
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pertendia.
Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida” .
Material recolhido em Poesias Completa de Luís de Camões, Editora Nova Aguilar, 1988.