Lia, a esposa desprezada
Lia é descrita como tendo olhos “bacos” ou “fracos” (Gn 29.17), o que pode ser uma referência à sua falta de visão ou simplesmente à falta de brilho no olhar. Através de um subterfúgio, Lia, em lugar da prometida Raquel, tornou-se esposa de Jacó. Deve ter sido uma filha obediente, pois ao menos concordou em participar desse engano. Apesar de tudo, amava Jacó e devotou-se totalmente a ele no casamento. Sua alma deve ter sofrido por ser objeto do desapontamento e do desprezo de Jacó, além de instrumento da conspiração de seu pai.
Apesar de viver debaixo de constantes comparações com sua irmã, Lia não escapou dos olhos cuidadosos de Deus. Em sua onisciência, Deus permitiu que ela engravidasse, enquanto a esterilidade de sua irmã era mantida. Teve a honra de dar à luz o filho mais velho de Jacó, mas presumiu erradamente que por isso receberia o amor de seu marido (Gn 29.32). Lia enfrentou o nascimento de seu segundo filho mais realisticamente, mas seus sentimentos profundos ainda a consumiam (v. 33). Quando veio uma terceira gravidez, ela exclamou: “Desta vez, se unirá mais a mim meu marido”, revelando uma intensa fome de amor (v. 34).
Lia começou seu casamento sentindo-se terrível, pois só enxergava tudo o que Ihe faltava, mas mudou de postura e voltou seu coração e sua atenção para o que possuía, determinando-se a louvar o Senhor. Somente o nascimento de seu quarto filho, Judá, fez essa esposa desprezada aprender a confiar em Javé (“Esta vez louvarei o SENHOR”, Gn 29.35).
Traçando a linhagem messiânica, o mundo todo se alegra com Lia porque sua fidelidade foi recompensada. O “Leão da tribo de Judá”, Jesus, o Messias, descende de seu filho Judá, e a linhagem dos sacerdotes, de seu filho Levi (veja AD 5.5). Lia personificou a necessidade crucial de viver para Deus e de glorificá-lo acima de tudo. Apesar de não ter sido atraente fisicamente, de não ter sido amada nem desejada a ponto de ser desprezada, Deus vislumbrou em Lia uma beleza interior que a capacitou a cumprir os planos dele (Gn 29.31). Ela não fez Jacó mudar, mas pôde transformar-se e reconhecer a mão de Deus em sua vida (Gn 30.13). Lia não deixou que as atitudes dos outros a desviassem de realizar a tarefa que Deus Ihe tinha designado.
Extraído de:
A Bíblia da Mulher: Leitura, Devocional e Estudo, v. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Ed. Mundo Cristão e Sociedade Bíblica do Brasil, p. 51.