A alvura dos dentes de um cão
Uma estória antiga diz que, na época em que Jesus vivia na Galileia, um grupo de pessoas observava um cachorro morto em uma praça. Cada um dava o seu palpite sobre a causa da morte daquele cão.
Um dizia: “Morreu porque atacava os ninhos das galinhas e comia os ovos”.
Outro falava: “Ouvi dizer que estava doente, com raiva”.
E outros insinuavam: “Certamente foi envenenado porque era traiçoeiro, atacava as pessoas pelas costas e mordia calado”.
Discutiam a causa da morte do cachorro quando Jesus chegou, acompanhado dos discípulos.
Abriram alas, Jesus passou, aproximou-se do cadáver e disse: “Nem as pérolas são tão alvas como os dentes deste cão”. E seguiu seu caminho.
A estória, embora apócrifa, traz uma grande lição: enquanto todos viam o que aquele cachorro tinha de pior, Jesus viu o que ele tinha de melhor: a alvura de seus dentes . Isto é benignidade!
Benignidade é a virtude que nos capacita a ter bons olhos, isto é, a ver as pessoas sempre pelo seu lado melhor, ver sempre o que elas têm de melhor.
Francisco Faus afirma que “a benignidade é, antes de mais nada, um especial modo de ver os outros. Para expressá-lo de maneira simples, poderíamos dizer que é benigno aquele que enxerga o próximo “com bons olhos”, e isto significa que possui uma inclinação habitual para fixar a sua atenção no “lado bom” das pessoas. Dentro do seu coração, está convencido de que não há nenhuma criatura que não tenha valor. Percebe amorosamente que em cada ser humano, de um modo ou de outro, encontram-se as sementes do latejar do bem”.
A ausência da benignidade causa conflitos e insatisfação. Às vezes não convivemos bem com o próximo porque não conseguimos moldá-lo como argila, de acordo com o modelo que criamos. Vemos a vida como um filme dirigido por nós, e reprovamos todos os personagens que não estão de acordo com o roteiro que elaboramos para eles.
Queremos que cada pessoa fale, cante e ande de acordo com o figurino que criamos para ela. Tudo isto para a nossa satisfação pessoal. Nesse caso, nossa frase favorita é esta: “Eu não gosto do modo como… (ele/a fala, ou canta, ou anda)”. Isso é egoísmo, é egocentrismo, é pecado.
Deus é autor da diversidade, e é isto que embeleza o mundo e faz da vida uma agradável aventura. A benignidade nos capacita a olhar o próximo com bons olhos, a respeitar as diferenças, a valorizar a multiplicidade e a exclamar como o salmista: “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas” (Sl 104.24).
Benignidade é fruto do Espírito; não é algo que nós produzimos, mas é o Espírito Santo que produz em nós esta virtude. Portanto, submetamos todas as áreas de nossa vida à direção do Espírito Santo para que ele produza em nós a benignidade.
Autoria atribuída a Rev. Adão Carlos, Pastor da Igreja Presbiteriana Central de Campinas – SP.