Os perigos da perda da espiritualidade
“É impossível que os que já uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro e depois caíram, sejam outras vez renovados para arrependimento, porque de novo estão crucificando para si mesmo o filho de Deus e expondo-o ao vitupério” (Hebreus 6:4-6)
Este assunto é de difícil trato, pois remete a uma análise de vida, dos possíveis pecados cotidianos que podem nos levar a abandonar Deus. Estávamos mortos, mas nascemos com Cristo através do batismo e começamos a nossa caminhada do homem carnal para o homem espiritual. Mas muitas vezes nesta caminhada começamos a tropeçar e vamos cambaleando espiritualmente. O texto de Hebreus é um alerta, sério e direto a todos nós. Muitas vezes pensamos que este texto só diz respeito aqueles que abandonam a Deus depois de virem para a igreja. Mas será que é só isto?
Pequenos desvios começam a nos abalar e a abrir frestas, que, se não concertadas, vão rompendo a nossa casa e ela acaba caindo. Por isso, a importância de vigiar diariamente. A caminhada espiritual é muito reconfortante para aqueles que se propõem a servir a Deus, mas o desvio do caminho ou os atalhos muitas vezes levam as pessoas a morrer espiritualmente.
Quais são os perigos espirituais daquele que se propõem a servir a Deus e como evitá-los para evitar uma queda espiritual?
Muitas coisas nos cercam e que nos levam a pecar. Vivemos em um mundo cheio de tribulações e coisas que nos atrapalham de servir a Deus, pois pelos tropeços do dia-a-dia pecamos. Vamos elencar algumas:
- O primeiro perigo espiritual são os problemas familiares
O primeiro ponto que é um tendão de Aquiles da espiritualidade de todos são os problemas familiares. A família é o nosso “próximo mais próximo”, e com eles temos que conviver, e essa convivência é difícil, pois cada ser humano é diferente do outro, e o entendimento muitas vezes é difícil. O que fazer para vencer esta difícil tarefa da convivência sem conflito e sem pecado?
Temos que estar com a nossa mente e coração voltado para aquilo que não podemos fazer e que nos causa pecado, ou seja, ter maturidade espiritual. A maturidade espiritual é o freio que nos segura quando vamos pecar, mas esta maturidade é conquistada e não vem de graça. Ela se conquista pela nossa determinação.
“Quando eu era menino, falava como menino, raciocinava como menino, mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de meninos” (I Coríntios 13:11).
“Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento” (I Coríntios 14:20).
Então, diante dos problemas familiares, para não pecarmos, vamos ser adultos espirituais, ou seja, adultos no entendimento. Entendimento é sabedoria para distinguir as situações, e desviar-se daquelas que podem abrir fossas que nos levam ao pecado. Por isso, em todas as situações, vamos pedir direção, nem sempre sabemos conduzir determinados conflitos. Os conflitos com o nosso cônjuge, com filhos irmãos e pais e quase que inevitável, então nesta área temos que ficar alerta, ou seja, andar de leve nas situações.
Aquele que prossegue na fé não pode voltar de adulto a ser menino espiritualmente, pois cristão não decresce, mas sim cresce a cada dia. Quando o texto fala em cair, não se refere somente a deixar Deus, mas sair do caminho por pecados cometidos.
“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como a cedro do Líbano” (Salmos 92:12)
“A vereda do justo é como a luz da aurora que vai brilhando cada dia mais e mais até ser dia perfeito” (Provérbios 4:8)
Então, nos nossos relacionamentos familiares, devemos não ser meninos espiritualmente, assim poderemos controlar as situações corriqueiras que nos aborrecem, nos fazem pecar para que possamos crescer como o cedro do Líbano e brilhar como a luz da aurora, cada dia mais.
“Desejai ardentemente como meninos recém nascido, o puro leite espiritual para por ele crescerdes para a salvação” (I Pedro 2:2).
- O perigo espiritual da falta de diligência para aquilo que nos comprometemos quando nos propusemos servir a Deus
O que é ser diligente? É ser zeloso; cuidadoso; aplicado; pronto, desembaraçado.
Quando fizemos um pacto com Deus na hora do batismo, fizemos a promessa de seguir a Jesus Cristo todos os dias da nossa vida, debaixo de um novo concerto, ou seja, ser zeloso, ser aplicado, ser cuidadoso para aquilo que nos propusemos.
E para honrar isto, temos que ser diligentes espirituais, ou seja, estarmos sempre vigilante contra aquilo que me faz pecar, evitar situações que sabemos que somos vulneráveis. Cada um sabe o seu ponto vulnerável. Dessa diligencia espiritual, a Bíblia nos diz: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás” e é apto para o reino de Deus (Lucas 9:62).
Não podemos ser displicentes com as coisas de Deus, mas atentos a tudo aquilo que é bom e agradável para Deus. Alguns conselhos que a Bíblia nos dá:
“Diz que o meu justo viverá da fé. E se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” (Hebreus 10:38)
A nossa vigilância deve ser contínua. Estar vigilantes e estar atentos para cada passo de nossa vida.
“Aquele, pois que pensa em estar de pé, cuida para que não caia” (I Coríntios 10:12)
“Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário o diabo, anda em derredor, rugindo como leão buscando a quem possa tragar” (I Pedro 5:8)
A falta de vigilância leva muitas vezes a ficarmos desavisados contra as investidas de Satanás. Sabemos que ele veio para roubar, matar e destruir. Então, a vigilância é o estado de prontidão e estar de sentinela para que possamos cumprir aquilo que nos propusemos: servir a Deus, sem interferências de nenhuma ordem, nem material nem espiritual.
“Buscai o senhor e o seu poder, buscai a sua face continuamente” (I Crônicas 16:11)
“Orai em todo tempo com toda oração e súplica do espírito. Vigiai nisto com toda a perseverança e suplica por todos os santos” (Efésios 6:18)
3) O terceiro perigo espiritual é não colocar a nossa vida espiritual acima da material.
Colocar vida espiritual acima da material tem um leque muito grande de interpretação. Desde por Deus em primeiro lugar até o desapego das coisas materiais.
O que esperamos deste mundo? Penso que nada. Só levaremos daqui as nossas obras, seremos salvos ou condenados mediante aquilo que aqui fizermos, mas este fazer deve ser um fazer pela fé, pensando sempre que nossa trajetória terrena é passageira. As boas obras de cada um de nós terá reflexo em nossas vidas aqui.
Colocar nossa vida espiritual acima da material é termos desprendimento para toda obra necessária a engrandecermos a Deus, e ajudarmos o nosso próximo. É sermos francos e abertos em proclamar que somos cristãos sem medo ou vergonha de professar aquilo que você é.
4) O perigo espiritual do comodismo e da inércia espiritual
A falta de crescimento espiritual nos leva muitas vezes à queda. Isto provém da inércia espiritual, ou seja, o que você tem feito para Deus, quanto você dá do seu eu para Deus. O comodismo dentro da comunidade leva aquele que se diz cristão ao esfriamento e distanciamento espiritual que pode levar à queda.
Se somos um corpo e Cristo a cabeça deste corpo, como pode a mão se encolher, o olho se fechar, o pé parar de andar? Portanto, podemos ser corpo igreja dinâmica com a contribuição de cada membro dentro daquele dom que Deus lhe concedeu. Deus não criou ninguém inútil; portanto, aquele que se julga inútil pode vir a cair, e vamos ver a consequência daquele que cai estando já firmado.
“Para que vos não façais indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas” (Hebreus 6:12).
5) O perigo espiritual das coisas mundanas
O mundo mudou os valores, a sociedade está doente, e muitas vezes o cristão acompanha a onda do momento se enredando nas coisas mundanas. Isto leva o cristão a pecados e a queda.
É muito sutil, é um passo a cada dia para uma vida diferente daquela que devia ser a vida cristã. A pessoa se dá a permissividade, e chega um momento em que tudo é normal e a consciência cauteriza.
“Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma” (I Pedro 2:11).
6) O perigo espiritual da autoconfiança do traçar o próprio caminho: Guiar a palavra ao invés de ser guiados por ela.
Queremos servir a Deus da nossa forma. Queremos conduzir a Bíblia e não sermos conduzidos por ela. Confiamos em nós mesmos. A igreja tem regras e normas baseadas na Bíblia, mas alguns cometem o equívoco de achar que determinada norma divina não é desta forma e sim de outra.
A parábola das virgens loucas nos elucida bem esta questão: todas eram virgens, mas as loucas não eram guiadas pela palavra, mas guiavam a palavra. Isto é muito perigoso, pois tiramos muitas vezes nossas conclusões sobre determinadas coisas que acabam virando pecados contumazes levando ainda à queda.
CONCLUSÃO
As consequências de uma queda para aquele que estava no caminho e voltou ou deixou, pela sua fraqueza ou pelo seu próprio querer, não é nada agradável. Pecados, cometemos todos os dias, mas temos que nos afastar daqueles que podem nos levar à morte.
“Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (II Pedro 2:20-21).
“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça” (Hebreus 10:26-29)
Por outro lado, fraquezas e pecados todos temos, mas temos que nos cuidar para não ter uma queda, que poderá não ter arrependimento. Aqui o contexto não diz que não há perdão, mas a impossibilidade de arrependimento para daquele que é conhecedor e comete apostasia negando aquilo que recebeu. Todos os pecados são passíveis de perdão desde que confessados, menos aqueles pecados contra o Espírito Santo.
“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse.” (Isaías 1:18-20).