Maria, um coração apaixonado
Lucas 10:38-42: “Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço . E, aproximando-se dele, perguntou: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!” Respondeu o Senhor: “Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada“.
Introdução
Betânia significa casa dos pobres ou casa de aflição, era uma cidadezinha da Judeia, ou melhor, um povoado, bem perto de Jerusalém. Jesus ia sempre lá porque havia ali uma comunidade de pessoas com atitudes que atraíam Jesus, um lugar especial não pela riqueza ou beleza, mas por haver ali pessoas que sabiam amar, como Simão, o Leproso (Marcos 14:3). Lá havia essa família que será objeto da presente reflexão… a família de Lázaro. Três irmãos órfãos e muito amados por Jesus. Os quadros registrados na Bíblia, inspirados por essa família, são lindos.
A visita de Jesus (Lc 10.38-42)
O primeiro quadro nos mostra Jesus chegando à Betânia, e Marta trazendo-O para hospedar-Se em sua casa. Ela apreciava muito o Mestre. Era hospitaleira e considerava uma honra receber o Senhor como hóspede. Essa mulher soube reconhecer e receber aquele que por muitos era desprezado.
Marta teve a atitude da hospitalidade. Hebreus nos recomenda que sejamos hospitaleiros, pois alega que alguns, fazendo isso, hospedaram anjos. Nesse caso, ela hospedou o Filho de Deus, o Salvador! Muitos de nós podemos pensar hoje: “Nossa! Que honra! Ah, se eu estivesse nessa época, eu também hospedaria o Senhor” ou podemos nos questionar: “Estaria eu entre os que o hospedavam ou entre os que o desprezavam?”
Para que saibamos se o teríamos hospedado ou o desprezado, basta que reflitamos se sentimos prazer em hospedar alguém não tão próximo. A analogia é a mesma, pois naqueles dias havia uma grande polêmica por Ele se dizer filho de Deus. A Bíblia nos diz que aquele que faz a um pequenino a Cristo está fazendo..
A escolha de Marta
Marta fez tudo para oferecer uma boa acolhida a seu hóspede. Era uma visita muito importante e merecia o melhor. Mas, assim como muitos de nós já fizemos, com o passar do tempo, enquanto realizava um serviço, atarefada, começou a ficar desanimada, inquieta, irritada, e começou a murmurar. Seu trabalho de amor começou a se tornar uma tarefa pesada!
A atitude de Marta é um alerta para nós. Queremos acolher com bondade, nossa intenção é boa, mas às vezes pomos tantos entraves, tantas dificuldades, que o que precisava de tão apouco, apenas de um coração disposto, torna-se um fardo! E por causa das minúcias, deixamos de lado o que é verdadeiramente relevante. Quanto Marta podia ter aprendido do Mestre!
A Escolha de Maria
Por outro lado, enquanto Marta se fatigava na labuta caseira, Maria, sua irmã, assentada aos pés de Jesus, totalmente absorta, esqueceu-se dos quefazeres diários e ouvia Seus ensinamentos ansiosamente. Bebia cada uma de Suas palavras. Ela sabia que o serviço da casa era coisa secundária. Ela não podia perder a oportunidade de prestar atenção ao Mestre e receber Dele os ensinamentos.
A perda de Marta
Marta queria ouvi-lo, mas não podia saborear os ensinos do Mestre, porque estava muito preocupada com as coisas de somenos importância. Quando não nos enchemos de Deus, nossa insatisfação com o que está a nossa volta cresce…
Ela começou a ter pena de si e a se considerar vítima, e, em determinado momento, não aguentando a injustiça, passou a acusar a irmã diante do hóspede amado. Sua irritação era tão grande que ela incluiu Jesus na acusação: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha?” E foi além, atrevendo-se a dizer ao Mestre o que ele devia fazer: “Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me” (Lc 10.40).
Jesus, calmamente, lhe diz: “Marta! Marta! andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa” (Lc 10.41-42).
Essas poucas palavras continham sérias advertências: Jesus, amavelmente, mostra a Marta no que está falhando. Mostra-lhe que:
a. Estava priorizando o que não era prioridade;
b. Estava perdendo tempo com coisas sem importância no Reino espiritual;
c. Preocupava-se em servir, quando Cristo veio para servir e não para ser servido;
d. Que não estava percebendo que Ele veio para lhe dar vida pela Palavra e não estava interessado se a casa estava limpa ou não. Ele queria a limpeza da sua casa espiritual.
Essas advertências são dirigidas a nós, hoje: nós podemos estar cometendo a mesma inversão de prioridades.
Maria fizera a escolha certa
Jesus responde à Marta: “Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10.42). Maria escolheu estar aos pés de Jesus, numa atitude de adoração. E, embora a irmã tenha pedido sua intervenção, ele a faz elogiando a ordem de prioridade de Maria, que esta tinha optado por deixar tudo para ouvir as Palavras de vida que o Mestre tinha a lhe dizer, havia feito a melhor escolha que nada nem ninguém lhe poderia tirar.
A morte de Lázaro (João 11:1-45)
1. A tragédia da morte
O segundo quadro é anunciado por espessas mágoas. A morte roubou do lar feliz o irmão querido. Parecia injustiça da parte de Deus! Eles já eram órfãos de pai e mãe! Além do mais, Marta, Maria e Lázaro eram amigos íntimos de Jesus. Mas a tragédia os alcançou. Parecia indiferença da parte de Jesus não ter vindo em tempo oportuno. Eles o mandaram chamar, mas ele permaneceu ainda mais dois dias onde estava. Aquelas irmãs esperavam que Ele tivesse vindo prontamente curar o irmão, mas Ele não veio e Lázaro morreu.
2. A vitória sobre a morte
Quando Jesus chegou a Betânia, Lázaro já tinha sido sepultado. Nesse incidente, vemos a diferença de temperamento entre as duas irmãs – Marta, muito ativa e franca, não pôde esperar e saiu correndo ao encontro do Senhor, enquanto Maria, mais introvertida e calma, ficou em casa.
Marta expôs ao Mestre sua dor e decepção: “Se o Senhor estivesse aqui meu irmão não teria morrido!” (v.21). Marta tirou de Jesus a mais conformadora declaração sobre a Sua Pessoa: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (v.25). Marta vai buscar a irmã, dizendo-lhe: “O Mestre chegou e te chama” (v.28), Maria “levantou-se depressa, foi ao encontro do Senhor e lançou-se a seus pés”. E disse: “Se o Senhor estivesse aqui meu irmão não teria morrido!”
É interessante notar que ela disse a Jesus exatamente as mesmas palavras que Marta tinha dito (v.32), mas a reação de Jesus foi diferente. Com Marta, Jesus manteve um diálogo teológico, mas com Maria Ele agiu diferente: ao vê-la chorar, o Senhor condoeu-se e lhe deu o mais belo gesto de solidariedade: “Jesus chorou” (v.35). E indo até o sepulcro disse em alta voz: Lázaro, sai para fora! Ambas presenciaram o poder de Deus e receberam o irmão de volta.
Ora, com essa lição, demonstra-se que Maria tinha intimidade com o Senhor, e, consequentemente, Ele compartilhava suas dores. O Salmista Davi dizia: “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele fará conhecer a sua aliança.” (Salmos 25:14)
Jesus nos conhece pessoalmente e trata Seus filhos individualmente! Para entendermos, basta pensarmos em nós, quanto humanos: Com quem confidenciamos? Com quem temos cumplicidade? A quem nos damos a conhecer?
Como nos tornaremos amigos íntimos de quem sempre está correndo, não tem tempo para estar conosco? Não confia em nós? A relação de Jesus com Maria era de intimidade.
Quantas vezes sofremos, nos desesperamos, oramos, clamamos… e mesmo assim o pior acontece. Ter amor por Jesus, ou tê-lo como amigo não nos imuniza contra tristezas e provas da vida. Contudo, nos garante forças e conforto para superarmos essas experiências. Precisamos achar um propósito nas experiências difíceis pelas quais passamos, e, mesmo sem achá-lo, devemos confiar no Senhor de que tudo coopera para o bem (Romanos 8:28)
Uma refeição de amor (João 12:1-8)
1. Um ato de amor incondicional
Um terceiro quadro se deu num banquete em Betânia, seis dias antes da morte de Jesus. Lázaro, que tinha sido ressuscitado, estava à mesa com o Mestre. Marta, como sempre, servindo. Maria, desta vez, faz algo que marca não apenas sua vida com a imortalizou ao longo dos séculos: sentando-se aos pés de Jesus.
Percebam que, por três vezes que a história menciona Maria, ela se coloca numa posição de humildade, está sempre aos pés do Mestre. Ela presta uma homenagem ao Senhor derramando um precioso perfume em Seus pés, enxugando-os com os cabelos. Foi a manifestação da sua alma, efeito de uma profunda afeição. Além de ser um ato inusitado, ele surpreendeu também pelo valor do perfume, cerca de 300 denários, o equivalente a U$ 260!
Maria foi imortalizada por seu gesto de amor. Seu desejo era mostrar seu profundo amor e reconhecimento pelo Senhor. Ele compreendeu, aceitou e disse aos presentes: “Onde esse Evangelho for pregado será dito o que essa mulher fez.” (Mt 26:13).
A Ressurreição de Jesus (João 20:1-18)
Como Maria deve ter se sentido ao ver morrer no madeiro aquele que ressuscitara seu próprio irmão? O impacto e a dor devem ter sido muito grandes! Vemos algo curioso: Jesus escolheu 12 discípulos, andou com eles, ensinou-os, mas ao ressuscitar, aparece primeiramente não a seus discípulos, mas à Maria, que chorava convulsivamente, pensando terem tirado o corpo do seu Mestre do túmulo. Jesus aparece e lhe diz: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” E, então, Ele a chama pelo nome: Maria!
Que amor tão grande essa mulher devia ter pelo Senhor para que ele aparecesse primeiramente a ela, a fim de minimizar sua dor?! São as palavras do Shema, que nos fala do grande amor que devemos ter e que Maria teve por Deus através de Seu filho: “Amarás o Senhor teu Deus te todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a sua força”.
Autora da lição: Profa. Odila Braga de Oliveira Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica, na revista “Gente Que Fez”, da série Biografias.