A semeadura espiritual e a colheita
Oséias 10:12: “Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia; lavrai o campo de lavoura; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós”
A semeadura na Bíblia é um tema colocado desde a primeira Aliança, sendo reforçado por Jesus em muitos momentos nas parábolas, e no seu cotidiano com os discípulos. É certo que o que o homem semear, isto colherá, quer seja o bom ou o ruim.
Vislumbra-se aqui dois tipos de semeadura:
A semeadura material ou terrena diz respeito aos nossos atos de justiça, no trato com o nosso próximo, e semeadura a espiritual, ou seja, aquela que você semeia a palavra de Deus, ou ceifa a semente germinada que foi semeada por alguém.
A Bíblia é implacável quanto a lei da semeadura, não há saída para aquele que semeia o mal, colherá sempre o mal e não o bem. Aquele que é justo também receberá de Deus o seu quinhão. Não há diferença deste ou daquele. Aquele que serve a Deus sabe o que é certo ou errado com clareza, e portanto, a cobrança será maior quando se planta coisas ruins.
Gálatas 6:7-8: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna”.
É patente que aos olhos de Deus nada passa: a obediência, os pecados, o amor ou o desamor ao próximo são pesados na balança de Deus que recompensará a cada um segundo as suas obras (Romanos 2:6). Mas o enfoque aqui é da semeadura espiritual, ou seja, aquela semeadura que liberta e que salva.
A semeadura espiritual
Na passagem de Oséias inicialmente o profeta diz “semear em justiça, ceifai segundo a misericórdia; lavrai o campo de lavoura”.
Pergunta-se: semear em justiça é só ser justo com as coisas materiais?
Não, este texto remete a uma semeadura espiritual.
A semeadura em justiça espiritual vai um pouco além justiça, ou seja, de praticar o bem ou o mal, ou mesmo praticar a justiça secular, que nada mais é do que os atos cotidianos normais.
A justiça tem um sentido mais amplo; não é somente dar a cada um segundo o que é seu. A justiça de Deus vai muito além da justiça terrena, ou seja, ela atinge o próximo em termos espirituais. Quando se traça uma meta de obedecer ao que Jesus ordenou, amar o próximo como a nós mesmos, a justiça deve-se equiparar à justiça de Deus e de Jesus.
Mas como equiparar a justiça de Deus e de Jesus com a terrena? De que forma isto pode ser feito?
O amor ao próximo deve ser pautado nos dois lados da justiça, a material e a espiritual. Não se faz justiça no sentido bíblico só em dar o que é do próximo materialmente. Deve-se, além de praticar as obras boas do respeito, da humildade, da fraternidade da caridade, qualidades que dizem respeito a atos materiais secular de uma pessoa honesta, também praticar a justiça de Deus que é amar o próximo como a nós mesmos.
Os dois lados da justiça de Deus
A justiça de Deus caminha ao lado de sua misericórdia. O que diz a Bíblia sobre a justiça de Deus e sua misericórdia? É a justiça de Deus que vem do seu juízo.
Há uma justiça de Deus que é a justiça retributiva que significa dar a cada um segundo as suas obras, ou seja, a punição do pecado pela desobediência dos seus mandamentos quando se tem o conhecimento da Sua lei, ou premiação daquele que a obedeceu.
A outra justiça de Deus que atinge todo o ser humano é o amor e a misericórdia, que se manifestou quando concedeu seu filho para morrer em morte sacrificial, para justificar e os perdoar os pecados cometidos pelo homem.
O homem está morto pelo pecado original. Deus, pela sua justiça e misericórdia, deu a chance da imortalidade a todos que aceitarem a Jesus e obedecerem aos seus mandamentos. Vejamos o que diz no livro de Romanos:
Romanos 3:21-26 “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”.
Neste texto, ficou claro que há uma justiça de Deus de misericórdia e é desta justiça que se faz a comparação com a justiça do homem.
Há que se fazer uma correlação da justiça do homem com a de Deus. Deus fez tudo pelo ser humano mesmo este não tendo merecimento. Deus deu o seu filho para justificar e salvar o pecador. Logo, o que o homem deve fazer pelo próximo? Deve guardar o amor e a justiça de Deus só para si?
A preocupação com o próximo não pode ser só o material, mas espiritual também. Onde está a justiça senão a de dividir com o seu semelhante, com seu próximo. Próximo são todos os que estão ao nosso alcance, seja amigo, seja familiar ou qualquer pessoa que cruze o caminho.
Quando se guarda para si essa misericórdia de Deus, sem torná-la conhecida do próximo, não se está cumprindo a justiça de Deus. Você recebeu a justificação de Deus através de Jesus Cristo, mas o que guardou para si? Como está a sua semeadura espiritual?
Jesus disse em João 4:34-37: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o quem ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem.”
Semeador e o ceifeiro
O semeador é aquele que lança a semente e o ceifeiro e aquele que colhe os frutos.
Os versículos anteriores mostram que os discípulos estavam falando de uma comida material, o alimento para o corpo, mas Jesus falava aos discípulos da colheita espiritual.
Foi claro: aquele que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna, ou seja, aquele que distribui e prega a palavra junta o seu galardão, semeia espiritualmente e colhe a vida eterna.
Ambos se regozijam: quem semeou e o outro que ceifou. Naquele momento da parábola, Jesus estava semeando (pregando a palavra), e está dizendo aos apóstolos para ceifarem.
Jesus se preocupava muito com a semeadura e com a colheita
Então, Jesus se despediu da multidão e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e pediram: “Explica-nos a parábola do joio na plantação”. E Jesus explicou: “Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio representa os que pertencem ao Maligno”.
Mas o semeador pode ser um e o ceifeiro outro, mas ambos recebem o galardão.
Esse falar de Jesus se refere a uma ceifa espiritual: ceifar almas que haviam sido plantadas por Jesus (sementes plantadas que germinariam).
Jesus veio salvar a humanidade e tinha pena da multidão sem direção, tanto que, em determinado momento ele disse: “E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor. Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara” (Mateus 9:36-38).
Quer seja a semeadura ou a ceifa espiritual, é necessário se atentar que quem fez parte do compromisso com Deus tem de possuir um compromisso do amor e da misericórdia ao próximo.
Como isto se expressa?
Deus não quer pessoas inúteis. Ele não escolheu as pessoas somente para uma justiça secular. Deus é justo, e deu seu filho para justificar o homem. Deve-se imitá-lo sendo justo com o semelhante, ajudando-o para que também possa ser justificado.
É injusto receber o maná celestial e não repartir. Essa injustiça será cobrada de todos que fizeram um concerto com ele. Caso guarde para si essa tarefa, não a desempenhando, ele cobrará as almas daquele que teve oportunidade de salvar e não o fez.
Não cabe a ninguém converter as pessoas. Esse papel é de Deus, mediante o coração daquele que recebe a palavra, abrindo o seu entendimento. mas a tarefa de passar compete a cada um que recebeu de Deus os manjares celestiais.
Todo que receberam de Deus a justificação tem responsabilidade na propagação dessa justiça: a propagação do Evangelho de Cristo para salvar a humanidade é dever de todos que receberam essa justificação.
O que Jesus disse na parábola dos talentos?
Mateus 25:14-30: “Um certo homem deu talentos há três pessoas, um recebeu cinco, outro dois e outro um. Os dois primeiros multiplicaram os seus talentos e um enterrou o seu único talento recebido”.
Quando aquele senhor voltou, o que ele fez com o servo que enterrou o talento? Lançou-o nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes, e deu os seus talentos ao outro que tinha recebido dez e disse: “Qualquer que tem lhe será dado e terá abundância, mas o que não tiver, até o que tem lhe será tirado”.
Portanto, a semeadura espiritual torna as pessoas dignas de Deus. Não se pode acolher a graça recebida de Deus de forma inútil. Muitas vezes até se faz coisas parciais que agradam a Deus, mas não se é um cristão completo quando guarda a graça Dele sem propagá-la.
A justiça é um fruto do espírito; quando não exercida, não agrada a Deus.
A recompensa da semeadura espiritual
Cada qual não será recompensado só pela justiça rotineira secular? Ser correto e ter misericórdia do próximo em termos materiais?
É relevante, mas não completo, pois o amor que é a guarda dos mandamentos. Deve ser passado ao próximo, pois esse dá a vida eterna. Deus não escolheu ninguém para ficar em um canto enterrando o talento recebido, mas para multiplicá-lo.
Pode-se afirmar que não se trata somente de um complemento para todos, mas de uma promessa. No texto inicialmente lido de Isaias, diz: “Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia; lavrai o campo de lavoura; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós”.
Aqui está implícita uma condição ceifai segundo a misericórdia, lavrai o campo de lavoura, tempo de buscar ao senhor, até que venha chuva de justiça.
Pelo texto percebe-se que a justiça de Deus sobre o cristão é também a sua misericórdia tem condição: semear em justiça, ceifar segundo a misericórdia lavrar o campo da lavoura, para que se possa receber a chuva de justiça.
Traduzindo o texto: pregue a palavra, o amor de Jesus, distribua o que recebeu para que Deus te recompense através da sua justiça e misericórdia.
A Bíblia dá alguns enfoques sobre a semeadura.
II Coríntios 9:6 diz: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Aqui o conceito desta frase é espiritual”
Provérbios 11:30: “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio”.
Há de se meditar porque o que ganha almas é sábio, quem tem conhecimento para passar, o conhecimento de Deus, que nada mais é do que a sabedoria que vem do alto. Quando se importa com o próximo, quando se faz o trabalho do amor e exerce a misericórdia está se plantando frutos espirituais e colher-se-á o que se plantou.
Salmos 28:4: “Dá-lhes segundo as suas obras e segundo a malícia dos seus esforços; dá-lhes conforme a obra das suas mãos; torna-lhes a sua recompensa”.
Jeremias 32:19: “Grande em conselho, e magnífico em obras; porque os teus olhos estão abertos sobre todos os caminhos dos filhos dos homens, para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas obras”
Conclusão
No julgamento final a colheita, a recompensa será dada conforme as obras feitas.
“Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).
A misericórdia de Deus será aplicada a quem teve misericórdia. Apocalipse 20:12 remata como será a retribuição de cada um: “E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” .
“E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra”. Apocalipse 22:12 .
Que se possa praticar justiça e misericórdia na presença de Deus, exercendo-a com o próximo, justiça essa que Deus concedeu através do seu filho para que o homem fosse justificado. Que essa justiça possa ser distribuída a outros, dando a possibilidade de justificação através de Jesus Cristo, e que aquele que a praticou possa receber o galardão prometido, que é salvação da sua alma.