Devemos guardar as leis de Deus?
PARA QUE SERVEM AS LEIS?
É imprescindível que primeiramente se entenda o que é e para que servem as leis: Leis são preceitos que regulam a sociedade, definindo direitos, deveres e como deve ser a conduta de cada cidadão, primando pela moral e os bons costumes, garantindo uma convivência harmoniosa e pacífica entre os semelhantes.
Imaginem por um momento como viveriam os homens sem as leis para governá-los! Só os mais fortes sobreviveriam e os mais fracos morreriam de fome ou seriam mortos por seus rivais.
Todas as nações possuem leis que delimitam a liberdade dos seus cidadãos, ensinando o que podem ou não fazer e até onde vai o seu direito e tem início o do próximo, assim como pais impõem regulamentos e normas, dentro dos lares, aos filhos, para que eles aprendam a se conduzir propriamente em família e socialmente.
As leis humanas são oriundas das leis divinas. Deus ensinou ao homem como ter uma vida digna e feliz através de suas leis, razão pela qual é de suma importância conhecê-las.
É muito comum ouvir que os Mandamentos se dividem em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Mas a pergunta é…
COMO AMAR A DEUS DE TODO CORAÇÃO?
Só podemos amar com toda a intensidade que nos ordena a Toráh o que conhecemos, respeitamos, tememos e admiramos. A maioria ama seus pais. Sabemos, entretanto, que há pais justos e pais injustos. E como sabemos disso? Na convivência diária passamos a conhecer suas atitudes, fragilidades, qualidades, defeitos e limites. Sabemos o que gostam ou não através de suas correções e sansões que impõem quando suas regras são quebradas.
No caso do Eterno não há imperfeições ou fragilidades, tudo nEle é justiça. O homem que teme a Deus tem o dever de conhecê-lo e de saber o que Ele gosta ou desgosta e o que espera de seus filhos. Essa é a razão dEle dizer em I João 2:4-6 (Bíblia Judaica):
“Se alguém disser: “EU O CONHEÇO, mas não guarda os Seus Mandamentos, é mentiroso, e a Verdade não está nele. Mas, se alguém guarda a Sua Palavra, então o amor genuíno de Deus foi verdadeiramente aperfeiçoado nele. Dessa forma sabemos que estamos realmente unidos com Ele. A pessoa que afirma permanecer em união com Ele deve conduzir sua vida da mesma forma que Ele.”
“Mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em COMPREENDER-ME e CONHECER-ME, pois eu sou o Senhor e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor.” (Jeremias 9:24)
COMO CONHECER A DEUS
Esses versículos deixam claro que é através do conhecimento da Lei de Deus que se entende a natureza e a essência daquele que falou e trouxe o mundo à existência. A meditação e o estudo de Sua Palavra conduzirão ao entendimento, e então à sensação de júbilo, respeito e o amor virá automaticamente.
Os sábios judeus também disseram que essa mitsvá (Mandamento) inclui convocar a humanidade a servir o Altíssimo, e a crer nEle. Isso porque quando admiramos e elogiamos alguém, temos a tendência de querer que outros o conheçam, outros são chamados a se aproximar, queremos dividir nossa admiração. Assim também, se amamos verdadeiramente ao Eterno, através do entendimento e compreensão de Sua existência; certamente espalharemos este conhecimento que temos dEle a todos que nos cercam: “Amigos de Deus falam aos seus amigos sobre Deus”.
Todo o Israel recita o Shema Ysrael citado em Deuteronômio 6:4-8, que mostra ao homem como deve ser o seu amor pelo Eterno:
“Ouça Israel יהוה nosso Deus (Elo-he-nu) יהוה é אֶחָֽד׃ (e-had – um). Voce deve ואהבת (ve-a-hab-tá – AMAR) יהוה SEU DEUS
בְּכָל־ (be-khal- com todo) לְבָבְךָ֥ (le-ba-be-kha – seu coração)
וּבְכָל־ (ub-khal – e com toda) נַפְשְׁךָ֖ (naf-sh-kha – sua alma)
וּבְכָל־ (ub-khal – e com toda)
מְאֹדֶֽךָ׃ (me-o-de-kha – sua força)”
“O segundo versículo da passagem do Shemá Yisrael, que começa com ve’ahabta, convoca Israel para amar a Deus plenamente. O uso do termo “amar”, no contexto de aliança do Oriente Médio antigo, foi descoberto como denotando a noção de lealdade, que é muito provavelmente a intenção aqui. O versículo ve’ahabta convoca o homem ao amor e a lealdade a Deus sob três perspectivas:
- Bekhol lebabekha (com todo coração)
- Ubkhol nafshekha (com toda sua alma)
- Ubkhol me`odekha (com toda sua força)
AS LEIS REVELAM A ESSÊNCIA DO CARÁTER DE DEUS
Como é possível amar a Deus sem conhecer a sua essência, seu caráter, suas proibições e sansões que impõe a seus filhos quando erram? Como é a atitude de um filho criado sem rédea (juízos)? Sem correções e punições (sansões) que limitem a sua liberdade, cerceando seus maus desígnios e infrações? Como são os filhos de pais permissivos? Vemos que eles perdem a civilidade, e por vezes até a humanização pelas atrocidades que cometem. Não há como saber o que é errado sem a existência da Lei (Romanos 7:7-12,22,25).
A Bíblia conta a história de um pai permissivo, que, embora a lei existisse, não fazia com que fosse obedecida em seu lar, não tinha postura, era omisso, e qual foi o juízo do Eterno sobre ele? Tirou dele o sacerdócio, entregando-o a Samuel e puniu seus dois filhos com a morte! (I Samuel 2:22-25,27,29-36, 3:13,14 – atenção ao termo blasfemar – o.t. amaldiçoar). Para entender o porquê de Deus ter usado esse termo, é necessário ler Números 15:30-31. Não se pode obrigar os filhos quando adultos, mas, naquilo que compete aos pais, que está sob sua autoridade, tem-se o dever de se posicionar a fim de contê-los, para que o mal não venha sobre eles ou sobre os pais.
Para se conhecer a Deus é necessário conhecer o Código de Vida que Ele deu para o homem, não há como conhecê-lo sem conhecer suas leis.
CONHECENDO A LEI DE DEUS
Observe que os versículos abaixo citarão testemunhos, ordenanças, estatutos, juízos, preceitos e mandamentos.
“Esta é, pois, a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel. Estes são os testemunhos (העבת – há-Edot), e os estatutos (החק’ם – há-hukim), e os juízos המשט’ם) – há-mishpatim) que Moisés falou aos filhos de Israel, havendo saído do Egito” (Deuteronômio 4:44,45).
“E guarda a ordenança (מִשְׁמֶ֣רֶת – mishnereth = charge, acusação, pena) do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, e para guardares os seus estatutos (huq-qo-taw), e os seus mandamentos (mishvotaw), e os seus juízos (mish-pa-taw), e os seus testemunhos (ve-e-d-vo-taw), como está escrito na lei de Moisés; para que prosperes em tudo quanto fizeres, e para onde quer que fores” (I Reis 2:3).
“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, e todos os dias guardarás os seus preceitos, seus estatutos, os seus juízos e os seus mandamentos“ (Deuteronômio 11:1).
DIFERENÇAS ENTRE OS TIPOS DE LEIS DE DEUS
Muitos, por desconhecerem o hebraico e as nuances da língua dos autores bíblicos, não possuem clareza quanto a diferença que há nesses conceitos da lei. Razão da grande distorção e incompreensão das leis que se cumpriram com a vinda de Jesus e as que perdurarão por toda existência humana, inclusive após o juízo, quando o Evangelho do Reino for ensinado a todos, e as leis estiverem no coração humano. Elas serão intrínsecas ao proceder do homem espiritual, talhado a imagem do Seu Criador e de Seu filho Jesus.
As diferenças entre as leis serão explicadas de forma totalmente embasada nas Escrituras Sagradas, e também como é feita essa categorização.
NA TORÁH HÁ CINCO CATEGORIAS DE LEIS
É importante que se conheça um pouco do porquê as leis vieram à existência, antes de explicar a abrangência de cada uma delas.
HISTORICIDADE DA LEI
Leis, como já dito, são preceitos que regulam a sociedade. São elas que definem os direitos e deveres e definem como deve ser a conduta do cidadão, prezando pela moral e os bons costumes, garantindo uma convivência harmoniosa entre os semelhantes. Sem elas para governar o homem, só os mais fortes sobreviveriam, os demais morreriam de fome ou seriam mortos por seus rivais.
Ao dominar as técnicas da agricultura, os homens passaram a se agrupar para trabalhar a terra e domesticar os animais. Havia apenas uma língua falada, comum a todos os povos, mas foi na edificação da Torre de Babel (confusão) que o Eterno viu a necessidade de refrear o homem e confundiu sua língua (Gênesis 11:1-9). Eles passaram a se agrupar pelo idioma falado. O passar do tempo e as necessidades do trabalho trouxeram consigo a necessidade de que aprimorassem a comunicação, vindo à existência a linguagem escrita.
REGRAS PARA UMA CONVIVÊNCIA HARMONIOSA
Ao mesmo tempo em que o grupo tornava a sobrevivência mais fácil, a convivência em grupo tornava os conflitos mais frequentes e difíceis de administrar, havendo a necessidade de se criar regras para a convivência comunitária. Assim, junto com o conforto das casas e a fartura das colheitas, surgiam as noções de propriedade privada e a guerra pela posse do que antes era considerado bem comum.
As leis vieram para que a comunidade pudesse continuar existindo, e todos fossem capazes de desfrutar das vantagens que ela proporcionava. Tornou-se importante determinar os direitos e deveres dos cidadãos, como, por exemplo, a proibição de roubar ou matar, para que todos soubessem agir com civilidade e cidadania com seus pares, e criou-se também a obrigação de se pagar impostos, para que fosse possível construir bens de uso comum, como estradas, pontes, praças, mercados, escolas, hospitais, etc.
A ESTRATÉGIA DE DEUS
As leis nem sempre foram justas, a princípio, nações faziam incursões a outras nações, a mais forte tomava tudo que pertencia à nação subjugada e o povo se tornava súdito da nação vencedora, lhe pagando tributos. E assim foi por milênios (só Adão viveu 930 anos!). Deus deu a lei oral, mas com o tempo o homem se corrompeu e se esqueceu dela, a ponto de o coração do Eterno ter se entristecido de tê-lo criado, tomando a decisão de uma destruição em massa através do dilúvio (Gênesis 6:6-8).
Após o dilúvio, o Eterno viu a necessidade de organizar a vida humana com leis justas e precisas, que, se obedecidas, o homem viverá por elas feliz e respeitosamente (Eclesiástico 17:9-12). Mas, para isso, toda uma estratégia fora traçada.
A ESCOLHA DE ABRAÃO
Deus escolheu um homem que sabia governar a sua casa, Abrão (2166 AC.), fez com que sua descendência se multiplicasse e se tornasse escrava na terra do Egito. Após 430 anos, Ele cumpriu sua promessa de libertá-los com braço forte e grandes sinais, endurecendo o coração do Faraó, para mostrar nele o Seu grande poder e se fazer conhecido por todas as nações, e, ao mesmo tempo, temido pelos hebreus que ouviam falam do Deus de seus patriarcas, e naquele momento puderam contemplar o seu poder (Êxodo 7:1-4,13,22; 8:18-19, 10:1). Nove pragas foram enviadas confrontando os deuses egípcios. Após a décima, o povo pode sair despojando seus captores (Êxodo 12:29-32).
O Eterno os levou pelo deserto e ao terceiro mês, no mês de Sivã, no Shavuot, (Dia de Pentecostes), sete semanas após a saída do Egito, Deus desceu no Monte Sinai, o povo ouviu a Sua VOZ, e os DEZ MANDAMENTOS foram concedidos ao homem, como um Código Eterno e imutável (Êxodo 19:1-2,5-6,10-11,14-15,18-19, 20:1,2).
AS TÁBUAS DE PEDRA COM OS DEZ MANDAMENTOS
Deus deu a Moisés duas Tábuas de Pedra com os Dez Mandamentos, que devem reger a vida humana. A Bíblia diz que os Mandamentos se dividem em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ouvimos essa citação com frequência, usada para justificar que a lei não existe mais, mas quem conhece a língua hebraica dos autores bíblicos, do qual descende Yeshua (Jesus), jamais faria tal alegação. A lei é a essência do caráter do Eterno.
O PORQUÊ DOS MANDAMENTOS SE DIVIDIREM EM DOIS
Observe o porquê de as Escrituras dizerem que os Mandamentos se dividirem em dois: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO.
Quem ama a DEUS SOBRE TODAS AS COISAS, cumpre os quatro primeiros Mandamentos concernentes ao seu Deus:
- Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou da terra do Egito (=Mundo);
- Não terás outros deuses diante de mim, não te encurvarás a eles nem lhes darás culto;
- Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; e
- Lembra-te do dia do Sábado para o santificares.
Quem ama ao PRÓXIMO COMO A SI MESMO, cumpre os seis Mandamentos concernentes ao próximo:
- Honra teu pai e tua mãe;
- Não matarás;
- Não adulterarás;
- Não furtarás;
- Não dirás falso testemunho contra teu próximo; e
- Não cobiçarás a casa do teu próximo.
Essas duas passagens, que fazem essa citação, poderão sem entendidas com mais clareza agora: Mateus 22:36-40; Romanos 13:8-10 (Tradução Bíblia Judaica Completa).
Os Mandamentos são leis muito amplas, precisam de leis regulamentares para explicitá-los, tornando-os mais compreensíveis e respondendo questionamentos que possam vir a existir sobre como guardá-los. As repostas a esses questionamentos podem ser obtidas através dos estatutos, decretos, preceitos e juízos. Estando os mesmos sempre pautados nos Testemunhos do Eterno para o homem. Razão pela qual houve a necessidade de Deus ditar a Moisés a TORÁ, que são os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, onde está destrinchada toda a Lei de Deus.
Um exemplo: O Quarto Mandamento nos ordena a guardar o Sábado. Perguntas poderiam surgir como: É permitido trabalhar nesse dia? Comprar ou vender? Pode-se cozinhar? Qual é o dia correto de Santa Convocação (cultos)? Por que Jesus ia à Sinagoga aos Sábados? Há um dia específico ordenado por Deus? Todas essas perguntas estarão respondidas nos estatutos de Deus, descritos na Torá, sobre o Quarto Mandamento.
Os Dez Mandamentos são como dez capítulos de um livro, que terão os seus conteúdos esmiuçados pela Torá.
QUEM ESCREVEU OS DEZ MANDAMENTOS E QUEM ESCREVEU A TORÁ
Deus não concedeu ao homem o dever da escrituração dos Mandamentos, Ele mesmo o fez com Seu próprio dedo, dado a sua importância (Êxodo 24:12; 31:18, 32:15-16, 34:1,28), mas atribuiu a Moisés a escrituração das leis que os regulamentariam. Leis ditadas pelo próprio Criador (Êxodo 34:27-29; Neemias 8:1-3; Deuteronômio 31:9-12). Moisés permaneceu no Monte Sinai por 40 dias e o Eterno lhe deu as instruções.
A esse conjunto de instruções, que compreende os cinco primeiros livros da Bíblia, contendo leis, estatutos (também chamados de ordenanças ou regulamentos), preceitos (Pena/Regra), juízos e Testemunhos, que, como já dito, regulamentam e esmiúçam os Dez Mandamentos, além de fatos históricos da saga dos hebreus em sua trajetória do Egito à Terra Prometida, foi dado o nome de Torá. Deus já tinha intenção de ditá-la a Moisés desde que pediu que subisse o monte (Êxodo 24:12); razão pela qual ele permaneceu lá por quarenta dias, a ponto de o povo ter pensado que ele desaparecera (Êxodo 34:28, 32:1; Malaquias 4:4).
A TORÁ REGULAMENTA OS DEZ MANDAMENTOS!
ONDE DEUS ORDENOU QUE SE GUARDASSEM OS MANDAMENTOS E A TORÁ
O Eterno diferenciou os Dez Mandamentos das leis que os regulamentam (Torá) até na forma que ordenou que fossem guardados:
- As Tábuas de Pedra ou Tábuas do Testemunho (Êxodo 31:18,34:29 (Bíblia Judaica Completa) com os Mandamentos, dentro da Arca da Aliança ou do Testemunho (Êxodo 40:20-21; Deuteronômio 10:1-5);
- A Torá, chamada de “Livro da Lei” ou “Livro do Pacto”, ao lado da Arca (Deuteronômio 31:24-26).
FUNÇÃO E COMPETÊNCIA DA NOSSA LEI DE FORMA SIMPLIFICADA
Com pequenas diferenças, mas para que você entenda a competência dos diversos tipos de leis, os Mandamentos seriam como a Constituição. Nela há estatutos, decretos, normas e penas para os transgressores; tudo para torna-la clara aos cidadãos e não oportunizar brechas para os infratores. Quando as leis da Constituição são desobedecidas, há a oportunidade, através da oitiva de testemunhas, de provar-se a inocência do acusado. Mas, uma vez comprovado o delito, sansões previstas na lei são impostas. Toda lei civil e criminal ocidental, e de alguns países orientais, é oriunda da Bíblia.
A Lei (Ex. Constituição) especifica direitos e deveres. É um ato emanado do poder legislativo para disciplinamento de matéria de competência do ente federativo: município, estado, união. Tendo que ter uma lei municipal para regular as coisas de competência do município, e assim por diante.
Decreto é o ato regulamentar de uma lei. Esmiúça a lei. É ato do poder executivo.
Estatuto é uma consolidação de normas legais.
Testemunha é depoimento de uma pessoa que presencia um fato, que servirá como prova de determinado processo e pode ser fundamental para que uma parte venha a ganhar ou perder uma causa. A testemunha reproduz acontecimentos passados retidos em sua memória, desde o momento em que presenciou o fato litigioso ou dele tomou conhecimento.
A Decisão Judicial pode ser definida simplesmente como a decisão tomada por juízes ou outros órgãos do Poder Judiciário no curso de um processo judicial, civil ou penal.
A LEI ERA TRANSMITIDA ORALMENTE
Abraão foi chamado pelo Eterno de “Seu amigo”, como resultado de seu profundo entendimento de Elohim. Abraão amou a Deus por conhecer a sua essência e o Eterno o amou por sua obediência. Só é possível conhecer o âmago do caráter de Deus através da sua Lei, que na época era transmitida oralmente. Veja quem se torna amigo de Deus, para entender o porquê de Abraão ter sido chamado de seu “amigo” em João 15:10,14.
Muitos podem estar pensando: “Mas a Lei foi dada a Moisés, milênios depois de Abraão!” Não, a LEI JÁ EXISTIA, era transmitida oralmente. Como pode ser constatado em Gênesis 26:5:
Porque Abraão me obedeceu e guardou meus preceitos, meus mandamentos, meus decretos e minhas leis”
A LEI EXISTIA DESDE QUE O MUNDO FORA CRIADO
A santificação do sábado ocorreu na criação, antes da existência de Moisés ou de qualquer judeu sobre a Terra (Gênesis 1:24-27,31, 2;1-3). Mais tarde, a ordem de sua observância foi apenas repetida nos Dez Mandamentos, usando-se o verbo no imperativo “lembra-te do dia do Sábado” (Êxodo 20:8).
Abel já conhecia a entrega das primícias, e por isso foi aceito por Deus, mas a oferta de Caim foi rejeitada, porque ofereceu “dos frutos da terra”, não teve o cuidado de oferecer “os primeiros frutos” (Gênesis 4:1-7).
Enoque e Noé andavam com Deus, eles o obedeciam e o conheciam e Deus os escolheu para seus propósitos (Gênesis 5:21-24, 6:9). O Eterno ordenou que Noé pusesse sete casais de animais puros e dois impuros na arca, e ele o entendeu (Gênesis 7:1-2,7-8, 8:20), logo, o princípio dos alimentos Kosher (puros) datam dos tempos de Noé, muito antes de serem repetidos em Levítico 11, o mesmo ocorre com a proibição de alimentar-se do sangue ou de qualquer animal sufocado (Gênesis 9:4-6).
Ninrode vivia em oposição ao Eterno, só se vive em oposição quem conhece o que é certo e não pratica, pois onde não há lei – diz a Bíblia – não há transgressão (Gênesis 10:8-9; Romanos 4:15).
Abraão construiu um altar ao Senhor, o invocava e obedecia suas leis (Gênesis 12:8, 26:5). Os homens de Sodoma eram grandes pecadores, diz a Bíblia. Só há pecado onde há conhecimento da lei (Gênesis 13:12-13, 18:20-24,32).
Melquisedeque já era sacerdote e a ele Abraão entregou seus dízimos, muito antes de existirem sacerdotes estabelecidos pela lei do sacerdócio levítico (Gênesis 14:18,20). Abraão era um profeta de Deus (Gênesis 20:2-7). A lei da circuncisão, que prefigurava o batismo, foi dada a Abraão. Séculos depois, o anjo do Senhor tentou matar Moisés porque não havia seguido a lei ordenada a seu ancestral, e somente mais tarde foi formalizada em Levítico 12:1-4 (Gênesis 17:10-12,23; Êxodo 4:24-26).
O direito de primogenitura já existia e fora vendido por Esaú a seu irmão por um prato de lentilhas (Gênesis 25:31-34). Jacó promete entregar seus dízimos, se Deus o abençoasse voltando em paz para casa (Gênesis 28:20-22). Todas essas passagens testemunham a existência da lei, muito antes da mesma ter sido repetida por Deus a Moisés.
Portanto, NÃO É LEI DE MOISÉS, É LEI DE DEUS!
A DURAÇÃO DA LEI É ETERNA
A lei é um Pacto de Deus com o homem de duração ETERNA (Salmos 111:9, 119:160; I Crônicas 16:15-17; Mateus 5:17-18 – Veja B.Judaica Completa; Sofonias 3:8-9).
A TERRA SOFRE POR TER ABANDONADO A LEI DE DEUS
Muitos culpam a Deus pelos sofrimentos existentes na atualidade ou descreem de sua existência pela mesma razão, mas as Escrituras nos explicam o porquê de eles existirem: porque o homem se distanciou dos princípios divinos, abandonou e transgrediu a Lei que o Eterno lhe outorgou, como um pacto perpétuo.
“A Terra murcha, o mundo definha porque seus habitantes transgrediram os ensinamentos, alteraram a Lei, quebraram a Aliança Eterna, portanto a maldição devora a Terra…” (Isaías 24:4-6).
“O amor de muitos esfriará por causa do distanciamento da Torá” (Mateus 24:12 – Tradução Bíblia Judaica Completa)
SEM LEI NÃO HÁ COMO SABER O QUE É O PECADO
São as leis que mostram o que é o pecado e onde se está infringindo a vontade do Deus Eterno e Criador do homem (Romanos 7:1,7,11-12,22,25 – ler na B. Judaica Completa; I Coríntios 15:56). Onde não há lei, não há violação (pecado) (Romanos 4:15). É pela fé que se age segundo a lei, confirmando a lei escrita no coração (Romanos 3:31).
O JULGAMENTO SERÁ APLICADO EM CONFORMIDADE COM A LEI
Jesus afirma em João 5:45: “Não penseis que eu vos hei de acusar perante o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais”. Moisés já não existia há milênios quando Jesus disse isso, mas seus escritos estão vivos e vigentes até hoje.
Na parábola do Rico e Lázaro, Abrão disse ao rico, quando este pediu que Lázaro fosse avisar seus irmãos: “Lá (na Terra) tem Moisés e os profetas, que ouça-os, se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não serão persuadidos nem mesmo se alguém se levantar dentre os mortos” (João 5:45-47; Lucas 16:29-31; Romanos 2:12-14; Lucas 16:19-31; II Coríntios 5:10). Seremos julgados pela lei, pois, como enfatizado diversas vezes, onde não há lei (Torá), também não há pecado (Romanos 4:15, 5:13, 7:8 – BJ Completa; João 15:22). Mas, é do conhecimento de todos que haverá um juízo para julgar a cada um por seus pecados, o que evidencia que a lei permanece.
A LEI DA GRAÇA É ATRIBUÍDA A PAULO POR MUITAS VEZES ELE USAR O TERMO ESTAR ACIMA DA LEI E DEBAIXO DA LEI
Vejamos o que Pedro nos fala da interpretação ou podemos dizer, da “deturpação” das epístolas (cartas) de Paulo em II Pedro 3:15-16: “…como nosso irmão Paulo nos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando dessas coisas como faz em todas as suas cartas. No entanto, algumas delas são difíceis de entender, e essas coisas, os ignorantes e instáveis estão distorcendo, assim como fazem também com o restante das Escrituras, para a sua própria condenação.”
Assim como no passado, ocorre também hoje, há muitos versículos que não são entendidos corretamente, pelo desconhecimento da língua grega. Romanos 10:4 é um deles, onde se traduz em algumas versões: “Cristo é o fim da Lei”. No grego é usada a palavra “telos” que significa “finalidade”, erroneamente traduzida como “fim” (ler na B. Completa Judaica – Porque o objetivo estabelecido na Torá é o Messias). Quando Paulo usa o termo estar debaixo da lei, ele se refere a SER INFRATOR dela (Romanos 3:19, 6:14). Leia em Gálatas 5:16-18*, o porquê dos que são dominados pelo espírito não estarem debaixo da Lei; em Gálatas 5:22-25 ele fala quais são os frutos do espírito e contra esses não há lei. Os que vivem pelo espírito, pregaram na estaca a sua carne. Quem vive em conformidade com a lei, não está debaixo dela, mas acima dela, porque não a infringe.
PAULO ERA UM GUARDIÃO FERRENHO DA LEI
Paulo era um judeu, da tribo de Benjamim (Romanos 11:1), instruído segundo o rigor da lei por Gamaliel, um doutor da lei, e zeloso pelas Escrituras (Atos 22:1-3, 17:1-2, 24:14; Filipenses 3:4-9*; Tito 3:13 (BJC). Como alguém que exalta a grandeza e o seu prazer na Lei aconselharia outros a abandonarem? (Romanos 7:12,22,25). Esses boatos e distorções de suas palavras já existiam desde a igreja apostólica (Atos 21:19-24). Percebam que a Segunda Aliança (Novo Testamento) veio a existência no ano 100, aproximadamente 30 anos após a morte de Paulo, então o que Paulo pregava? Ele pregava a Torá (os cinco primeiros livros da lei) e a Tanakh (a Primeira Aliança, de Gênesis à Malaquias, conhecida hoje como “Velho ou Antigo Testamento”). Observe que ele pede a Timóteo, seu irmão de fé, que lhe traga os livros e os pergaminhos que deixara na casa de Carpo (II Timóteo 4:13, 3:14-16). Ele ensinava as Escrituras da Primeira Aliança (Atos 17:1-3).
HAVERÁ UM JUÍZO QUE SERÁ REGIDO PELA LEI
A Bíblia nos relata que virá um juízo sobre a Terra, quando o trigo será guardado no celeiro de Deus e o joio será ajuntado pelos anjos e queimado. E descreve quem é o joio em João 13:41: “O Filho do Homem enviará seus anjos e eles ajuntarão dentre seu Reino, tudo que faz pecar e todas as pessoas distanciadas da Torá” (B. Judaica Completa) (João, 5:28-29; Isaías 4:2-4, 33:11-12,14, 61:2, 63:4, 66:16; Jeremias 25:29-31; Mateus 7:21-23; Romanos 2:12; Salmos 149:6-7).
TODOS CONHECERÃO A VERDADE E ENTÃO VIRÁ O FIM
Deus não condena ninguém sem o conhecimento da Lei. A Bíblia é clara ao afirmar que quando o Evangelho do Reino for pregado a todas as nações, então virá o fim. Há nações em que o Evangelho nem é permitido entrar. Em outras, os que temem a Deus e querem guardar os seus Mandamentos são mortos, escondem sua fé, temendo por sua vida. Por isso, a Bíblia nos fala do “ano” de resgate de seu povo, quando os olhos das nações serão abertos (Isaías 35:5-10) e do “dia” da vingança, que será quando o juízo dos perversos e maus, apóstatas, iníquos e blasfemos será executado (Isaías 34:8, 63:4; Mateus 24:14; Isaías 2:1-3, 25:6-8, 29:17-20,24, 32:1-4, 35:5-10, 42:16-17; Mateus 22:24-30; Isaías 28:9-21; 65:17-18,21-23).
Juízo em hebraico é “mishpatim”. Julgamento significa “aplicação da Lei” (Isaías 5:7; Números 15:15-16), portanto, no julgamento será a aplicada a lei que está nos lares de cada um e a Terra se encherá do conhecimento do Eterno (Habacuque 2:14) e todos os remanescentes o servirão de comum acordo (Sofonias 3:8-9).
O QUE É A TÃO FALADA “GRAÇA”
Graça é um favor imerecido. A GRAÇA DE DEUS FOI CRISTO TER MORRIDO PELO HOMEM, sendo ele ainda pecador, e lhe conceder o perdão de seus pecados, diariamente, quando se arrepende e os confessa. Cristo intercede como sumo-sacerdote perante o Pai, no Dia da Expiação (Yon Kipur), por aqueles que passaram pelo arrependimento e confissão dos pecados, para que os mesmos sejam apagados dos livros celestiais (I Timóteo 2:5; Hebreus 2:17-18, 4:14-16,7:25, 8:1-2, 9:6-9,11-12, 23-24; Romanos 5:15-17,21, 4:4-7, 8:29, 10:4 -BJ Completa; Gálatas 2:4-8; Efésios 1:5-7).
Concluindo:
PECADO É A TRANSGRESSÃO DA TORÁ (I João 3:4 – B. Judaica Completa).
SE NÃO HOUVESSE LEI, NÃO HAVERIA MAIS PECADO. E NÃO HAVENDO PECADO, SERÍAMOS JULGADO PELO QUÊ?
Juízo só existe quando há desobediência à Lei, mas quando NÃO HÁ LEI, NÃO HÁ DESOBEDIÊNCIA. Do que serviria a graça se não houvesse mais pecado? Do que o homem seria acusado não havendo lei? Todos estariam salvos, pois não haveria infrações! Mas o pecado existe e o homem é orientado pela palavra a abandoná-lo, para que a ira de Deus não o apanhe (Efésios 4:23-26,31-32; 5:3-6*).
A LEI BENEFICIA O HOMEM
A Lei de Deus dá SABEDORIA, ENTENDIMENTO e isso é mostrado diante dos povos (Deuteronômio 4:5-8; Daniel 1:19-20).
Conhecer e guardar a Lei é o que torna o homem JUSTO e IRREPREENSÍVEL (Deuteronômio 4:5-6, 6:25 – BJC; Romanos 2:13; Lucas 1:6); BEM-AVENTURADO e TUDO LHE VAI BEM (Deuteronômio 6:1-3, 5:29, 28:1-14; Apocalipse 22:14); é FELIZ (Salmos 119:1-4), LONGEVO (Êxodo 23:22,25,26; Deuteronômio 5:33). SEUS FILHOS SÃO ABENÇOADOS (Deuteronômio 5:29, 7:12-13); SERÁ AMADO POR DEUS E SAUDÁVEL (Êxodo 15:26; Deuteronômio 7:11-15).
OS DEZ MANDAMENTOS
No hebraico o termo Mitzvôt é usado para Mandamentos. O Decálogo é o código moral, indivisível, intransponível, inviolável e imutável que deve reger a vida humana. É chamado de Lei Maior ou Lei Moral e é a ele que o Eterno se refere quando diz: Se ouvires a MINHA VOZ; pois a única vez que o homem ouviu a voz de Deus foi na outorga dos Dez Mandamentos (Êxodo 19:16-19, 20:1-21; Levítico 26:3,14-15; Deuteronômio 4:32-33, 5:26,29 –BJC, 6:17).
Os Dez Mandamentos são como se fossem 10 títulos, referentes a dez CAPÍTULOS DE UM LIVRO, cujo conteúdo será destrinchado pela Torá.
TORÁ
Torá do hebraico תּוֹרָה – significando: instrução, lei, apontamento. É derivada da palavra hebraica: yārāh – instrua, dirija, mostre. É um rolo de pergaminho no qual os cinco livros de Moisés foram escritos, e é também a primeira das três divisões do cânon judaico (Romanos 9:4-5*).
Foi revelada a Moisés no Monte Sinai e entregue à nação de Israel para que aprendesse como guardar os Mandamentos (Romanos 9:4-5). Naquele monte, foram entregues as tábuas com os Mandamentos e, segundo a tradição judaica, duas Torot foram outorgadas: a Torá Escrita (o Pentateuco) e a Torá Oral.
Como já vimos, a Torá Oral, repetida por D’us a Moisés, já era conhecida pelos patriarcas e por várias pessoas citadas na Bíblia, como Enoc, Noé, Abraão. Homens que a Bíblia diz que “andavam com Deus” (Gênesis 5:21-24, 6:9, 26:5; Eclesiástico 44:20).
A TORÁ, que REGULAMENTA OS DEZ MANDAMENTOS, corresponde a estes livros:
HEBRAICO PORTUGUÊS SIGNIFICADO
Bereshit (Gênesis) (No princípio)
Shemot (Êxodo) (Nomes)
Vayicrá (Levítico) (Ele disse)
Bamidbar (Números) (No deserto)
Devarim (Deuteronômio) (Palavras)
“Há um completo entendimento que há na Torá 613 mitzvot: 248 mitzvot positivas (uma para cada osso e órgão do corpo masculino) e 365 mitzvot negativas (uma para cada dia do ano solar)”. Exemplo de mitzvot positivas:
1.Honrar o idoso e o sábio (Lev. 19:32);
2.Aprender a Torá e ensiná-la (Deut. 6:7);
3.Apegar-se àqueles que conhecem a Deus (Deut. 10:20) (O Talmude esclarece que aqueles que se apegam aos que são estudiosos da Lei, estão equivalentemente se apegando Àquele que a Lei outorgou);
4. Nada acrescente aos Mandamentos da Torá, quer na Lei escrita ou em sua interpretação recebida por tradição (Deut. 13:1);
5.Nada tire dos Mandamentos da Torá (Deut. 13:1); E
6.Cada pessoa deve escrever um rolo da Torá para si mesmo (Deut. 31:19)
Concluindo: A TORÁ é o conjunto de instruções que explica, esmiúça e esclarece como guardar cada Mandamento (Romanos 7:1-12; Tiago 2:8-12 – onde está escrito Lei, substitua por Torá como está na Bíblia Judaica Completa).
TANAKH (PRIMEIRA ALIANÇA)
Conhecido e erroneamente chamado pela maior parte das pessoas como “VELHO ou ANTIGO TESTAMENTO”, é na verdade a Primeira Aliança entre Deus e o homem. O termo “Antigo Testamento”, apesar de comum, é muitas vezes considerado pejorativo pelos judeus, pois pode ser interpretado como inferior ou antiquado ao Novo Testamento, que nada mais é do que a Segunda Aliança, COMPLEMENTO DA PRIMEIRA.
O TANAKH é a Bíblia Hebraica da Primeira Aliança, composto de 24 livros. As próprias letras que formam esse nome representam o acrônimo das obras que o compõem:
TA – TORAH – Cinco primeiros livros da Bíblia; Em grego – PENTATEUCO (Penta = cinco / teuco = rolos)
NA – NAVI’IM – Oito livros dos profetas maiores e menores: nesses livros há a figura dos profetas, escolhidos por Deus e enviados para falar ao povo recordando-lhes as leis e a observância às mesmas.
KH – KTUVIM – Escritos – São onze livros de gêneros literários distintos: poéticos (cânticos e orações: Salmos, Cantares), narrativas históricas (Esdras, Neemias, Ester, Jó, Rute, etc) e os livros sapienciais (Eclesiastes, Provérbios).
O TANAKH compreende de Gênesis à Malaquias, e em sua totalidade é composto de leis (Mandamentos e a Torah que os regulamenta), regras, preceitos morais, juízos aplicados por D’us às infrações cometidas, exortações dos profetas para que o povo convergisse de seus caminhos quando estavam desviados, testemunhos, comentários, opiniões legais, proibições e fatos históricos.
MISHNÁ
(Compilação da Lei Oral)
No Monte Sinai, como já dito, segundo a história judaica, foi dado por Deus a Moisés a Torá e também a lei oral, que não devia ser escrita, apenas repetida pelos que estivessem constituídos, para que ficasse na mente e no coração do povo. No ano 70 d.C., com todos os acontecimentos e perseguições romanas, o Rabino Iehudá-há-Nasi (em hebraico – nosso Mestre Sagrado) por medo de que essas interpretações das leis se perdessem, violou o princípio da proibição e compilou as leis orais para que pudessem ser preservadas e não se perdessem com o tempo e nem fossem esquecidas. Essa compilação recebeu o nome de MISHNÁ.
A Mishná é uma das principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação na forma escrita da tradição oral judaica, da Torá Oral. Compilada por volta do ano 200, reunindo textos do sec. III até o séc. V. É um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, a ética, aos costumes e história do judaísmo.
Com o passar do tempo, muitos rabinos estudaram a Mishná comentando-a e interpretando-a do Sec. III até o ano 500 d.C. Essas interpretações geraram uma nova obra: a GUEMARÁ.
MISHNÁ + GUEMARÁ = TALMUDE Lei Oral Interpretações
O conjunto formado pela MISHNÁ e GUEMARÁ deu origem ao TALMUDE (instrução ou aprendizado) configurando a tradição oral, formalizada por escrito e seus mais insignes comentadores.
No Talmude encontra-se tanto as prescrições legais, sobre os mais diversos âmbitos da vida (no hebraico chamado de halachá = caminho ou modo de conduzir-se), como os contos e parábolas que transmitem os principais valores e crenças judaicas.
ENTENDENDO A CATEGORIA DAS LEIS DE DEUS
Repetindo: As leis são preceitos que regulam a sociedade. São elas que definem direitos e deveres e definem como deve ser a conduta de cada cidadão, prezando pela moral e os bons costumes, garantindo uma convivência harmoniosa entre os homens. Sem elas, só os mais fortes sobreviveriam (Romanos 7:7-9,21-25; I Timóteo 1:8-10 (BJC); II Tim. 1:13; Luc. 5:32).
É muito importante saber discernir a qual categoria de lei os textos bíblicos se referem durante nossa meditação nas Escrituras.
Deuteronômio 11:1 diz: Ame a Jeová, seu Deus e cumpra a sua obrigação para com Ele, suas mishmartov (= acusações/pena/preceitos); seus huqqotav (estatutos/regulamentos), seus/suas mishpatav (julgamentos/decisões judicias) e os seus mitzvot (Mandamentos). As Escrituras usam esses termos do hebraico: וּמִצְוֺתָ֖יו, וּמִשְׁפָּטָ֛יו, וְחֻקֹּתָ֧יו ,מִשְׁמַרְתּ֗וֹ
- Mitzvot (Mandamentos / Voz de Deus / Pacto / Aliança);
- Chukim (Estatutos, ordenanças, regulamentos);
- Mishmereth (Acusações / Pena, preceitos, normas, regras);
- Mishpatim (Juízos); e
- Edot (Testemunhos).
O quadro abaixo evidenciará e explicitará cada tipo de lei e sua função para melhor compreensão:
Para que você entenda qual a função dessas categorias de leis, observe:
As passagens que fundamentam o quadro acima, estão abaixo:
3º Mandamento: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”
1. Mitzvot (Mandamento) – Êx. 20:7; Deut 5:11
2. Huqquim* (Estatuto) – Levítico 5:4-5, 19:11-12, Mateus 5:33-37; Números 30:3-16* (huqquim); Tiago 5:12; Eclesiástico 23:9-14; Deuteronômio 23:21-23; Eclesiastes 5:1-6. Estatutos são para todos: naturais e estrangeiros (Levítico 24:22).
3. Mishmereth (Acusação/ Pena) – Malaquias 3:5; Zacarias 8:17
4. Mishpatim (Juízo aplicado) – Levítico 24:10-16; Zacarias 5:3-4;
5. Edot (Testemunho) As duas Tábuas de Pedra / Tábuas do Testemunho
AS TRÊS DIVISÕES DO DECÁLOGO
Mandamentos – Voz de Deus – Pacto – Aliança – LEI MORAL – Mitzwot – (Deuteronômio 4:1-6,13)
No Primeiro Mandamento do Decálogo, Deus proclama sua identidade, seu relacionamento com Israel e suas grandes benfeitorias em favor dos israelitas e de todo aquele que chama e escolhe para servi-lo, dos quatro cantos da Terra, a saberem que Ele os redimiu da escravidão do Egito, que simboliza o mundo, e os resgatou do poder do faraó (Satanás). Isso implica na responsabilidade dos israelitas naturais e dos enxertados de se comprometerem com a Aliança que o Eterno estabeleceu com eles.
O Segundo Mandamento demanda devoção a Ele e bane todas as formas de politeísmo e idolatria. Os primeiros dois mandamentos, juntos, constituem a fundação da aliança, e contemplam as suas características mais essenciais, sendo totalmente concentrados no Criador. Aplicações e extensões desses dois mandamentos e do relacionamento de aliança que eles manifestam, além de medidas para melhorar e preservar o relacionamento e impedir a violação dele, compõem a seção das mitzwot.
O Terceiro Mandamento, a proibição de tomar o nome de Adonai em vão, faz parte da categoria de mitzwot, mas tangencia os Huqquim… sua expansão e leis subsequentes entram na seção de Huqquim.
O Quarto Mandamento, concernente ao sábado, um exemplo primordial de Huqquim. Guardar todos os dias que aliança o homem com o seu Deus, torna-se um sinal na mão e na testa dos salvos, que os distinguirão no juízo. No quarto mandamento está o sábado, sétimo dia semanal e as Festas do Senhor: Páscoa, Asmos, Pentecostes, etc., também chamadas de sábados, porque nelas há a proibição de qualquer atividade laboral.
O Quinto Mandamento, honrar pai e mãe, delineado como imperativo categórico tal qual todos os Dez Mandamentos são, tem frequentemente sido considerado como parte de Huqquim.
Os mishpatim propriamente ditos compõem do sexto ao Décimo Mandamentos.
Exemplos de MISHPATIM (Êxodo 21)
12. Quem ferir a outro do modo que este morra, também será morto;
14. Se alguém vier maliciosamente contra seu próximo, matando-o na traição, trá-lo-ás até mesmo do meu altar, para que morra. (Homicídio Doloso);
15. Quem ferir seu pai e/ou sua mãe, será morto;
16. Quem raptar alguém, e o vender, ou for achado na sua mão, será morto. (rapto e sequestro);
18,19. Se dois brigarem, um ferindo o outro com pedra ou com punho, e o ferido não morrer, mas cair de cama, se ele tornar a levantar-se e andar fora apoiado seu bordão, então será absolvido aquele que o feriu; somente lhe pagará o tempo que perdeu e o fará curar-se totalmente. (Lesão corporal e Responsabilidade Civil);
22. Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e forem causa de que aborte, porém sem maior dano, será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como juízes lhe determinarem (Responsabilidade Civil).
DISCERNINDO A QUE CATEGORIA DE LEI OS TEXTOS BÍBLICOS SE REFEREM
Analisemos algumas citações de Paulo, que são “aparentemente controversas”, e observemos os termos usados por ele, no grego; idioma em que a Segunda Aliança fora traduzida, a fim de saber a que tipos de leis ele se refere ao dizê-las:
“O Mandamento (Entole) que era para a vida” (Romanos 7:10) conduziu-me a morte” (outra tradução – me matou) – aqui Paulo está mostrando que quando se desconhece a lei, o homem é inocente no que faz (Romanos 7:9), mas quando passa a conhecê-la, torna-se consciente de seus erros, pois ela aponta onde você a tem violado, conduzindo à morte, caso não haja arrependimento e conversão (Romanos 7:7). Paulo diz sobre e lei:
“A Lei (Nomo =Torá) é boa e santa; e o Mandamento (Romanos 7:12) (Entole = Mitzvot) é santo, justo, e bom”
“A Lei (Nomo = Torá) é espiritual” (Romanos 7:14)
“A Lei (Nomo = Torá) é boa” (Romanos 7:16)
“Tenho prazer na Lei (Nomo = Torá) de Deus” (Romanos 7:22)
“Com entendimento sirvo à Lei (Nomo) de Deus” (Romanos 7:25)
Observe no quadro da página anterior que “Entole” é Mandamento e “Nomo” é a denominação usada para Torá, no grego. Reflita: Como poderia Paulo ser o responsável pela “Lei da Graça” que aboliu as leis, se ele chama a Torá de boa, santa, espiritual, e diz que tinha “prazer” na Lei e que com entendimento “servia a Torá”?! Da mesma forma alega que o Mandamento é para a VIDA e o chama de santo, justo e bom.
ENTÃO, A QUE LEIS DE DEUS PAULO SE REFERIU?
Há um versículo muito deturpado, não por mal, mas provavelmente pelo desconhecimento das terminologias e classificação das leis onde Paulo diz:
“[Cristo] aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças (dogmasin = estatutos), para que dos dois [povos] criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (Efésios 2:15 – obs. 2:19,20*; Colossenses 2:14).
Não é possível saber a diferença uma vez que as traduções deixam muito à desejar. Ao ser lido no grego, Cristo aboliu na sua carne a lei dos mandamentos em forma de “dogmas” (dogmasin). Observe que ele NÃO diz que Cristo aboliu na sua carne os “Mandamentos” representados pela palavra grega “Entolon” ou a “Torá” (os cinco primeiros livros da Bíblia), traduzida em grego como “Nomo”. E continua dizendo:
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira [aliança] fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá́ estabelecerei uma nova aliança” (Hebreus 8:6-8). “Dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, está prestes a acabar, de ser substituído pelo novo” (Hebreus 8:13).
“Ora, também a primeira [aliança] tinha ordenanças (Dikaioma = preceitos, norma, pena) de culto divino, e um santuário terrestre” (Hebreus 9:1,11-15).
Os Mandamentos são ETERNOS e IMUTÁVEIS, por fazerem parte da própria essência do caráter de Deus. Temos uma NOVA ALIANÇA, baseada na VOZ de Deus que é irrevogável (Mateus 24:35; Marcos 13:31; Lucas 21:33). Esse é o fundamento do “contrato de casamento”, também chamado de Aliança, Acordo, Pacto, Testamento: “Não quebrarei a minha ALIANÇA, não alterarei o que saiu dos meus lábios” (Salmos 89:34).
Alguns estatutos, bem como alguns preceitos, que eram sombras de coisas futuras, (Hebreus 10:1; Colossenses 2:16,17; Hebreus 8:5; Hebreus 9:24; Joao 1:17), foram substituídos por meio de sacrifícios espirituais no coração do homem (Colossenses 2:11; Romanos 2:29), como será mostrado a seguir.
PROFECIA QUE PREDIZIA QUE ESSAS LEIS EM FORMA DE ORDENANÇAS E DOGMAS FICARIAM PARA TRÁS
Apocalipse 12:1: Viu-se então um grande sinal no céu, uma mulher (Igreja, a noiva de Cristo – Cantares 6:8-10, 4:10,12) estava vestida do sol (A Dualidade, a verdade, pureza e justiça – Isaías 60:1-3; Lucas 1:78, 2:32; Malaquias 4:2, Salmos 84:11, João 8:12, Mateus 13:43; Atos 2:20; Isaías 30:26 – futuro). Essa Igreja pertencia ao varão, era uma igreja de Cristo, diferente das igrejas citadas em Isaías 4:1. A lua (Gênesis 37:9; Joel 2:28-31; Atos 2:17-20) estava debaixo dos seus pés (o que está debaixo dos pés é pisado, fica para trás. Aqui já estava sendo mostrado que certas leis ritualísticas seriam suplantadas com a vinda do Cordeiro: a lei de sacrifício de animais cessaria (Daniel 9:27); o velho conserto da circuncisão foi substituído pelo batismo (Genesis 17:10-12; Levítico 12:1-3; Filipenses 3:5; Gálatas 2:3-5*; João 1:6,33; Atos 19:1-4; Colossenses 2:11-13). O cordeiro da Páscoa foi substituído pelo pão e o vinho (Mateus 26:17-20,26-29; João 6:48-57). O sumo sacerdote passou a ser o próprio Yeshua (Jesus) (Hebreus 8:6-8,13, 9:11,23-24; I Timóteo 2:5) e o sacerdote passou a ser o homem que serve a Deus (Êxodo 19:6; I Pedro 2:9-10).
Na cabeça dessa mulher havia uma coroa (a justiça, retidão, vida eterna, salvação baseada na Lei de Deus – Isaías 28:5; Jó 29:14; Tiago 1:12; II Timóteo 4:7-8) de 12 estrelas (Estrelas são homens – Gênesis 15:4-5, 37:9-11*, Judas 1:12-13; e também anjos – Apocalipse 1:20, 12:4; I Coríntios 15:40-41), ou seja, essa igreja era conduzida, na Nova Aliança, para salvação que leva à vida eterna, na justiça e retidão, por 12 homens justos e retos (= os 12 apóstolos – Marcos 3:14-19).
É necessário entender o “espirito” da lei, uma vez que “A Lei é Espiritual” (Romanos 7:14). Por exemplo: Era ordenado que se “Pusesse o óleo nas sete lâmpadas do castiçal”; sua luz nunca podia estar apagada durante a noite (Êxodo 25:31-32,37, 27:20-21). O castiçal (menorá) é um dos símbolos da Igreja (Apocalipse 1:20). As 7 lâmpadas (ou sete olhos) são os Sete Espíritos de Deus (Zacarias 3:9, 4:1-2,4,10; Apocalipse 3:1, 4:5, 5:6; Isaías 11:1-2). Perceba que ao lado do candelabro há duas oliveiras (Zacarias 4:3,11-14; Ap. 11:3,4). As duas oliveiras representam as duas Alianças, os dois Testamentos. O azeite, que é extraído do fruto da oliveira, é também símbolo do Espírito de Deus. Essa visão dada a Zacarias está mostrando que a Igreja de Deus é conduzida pelo Espírito de Deus na Verdade, proveniente dos dois Testemunhos de Deus na Terra: a Primeira e a Segunda Aliança (I Coríntios 6:19, Efésios 5:18).
O SANTUÁRIO DE DEUS É O HOMEM
“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vós não sois de vós mesmos?” (I Coríntios 6:19).
“Enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18).
Ao povo de Israel e aos israelitas pela fé, o fato de não dar ouvidos à VOZ de Deus, ou seja, transgredir os 10 Mandamentos, que foram ouvidos por toda a nação, acarretava influência direta na salvação, porque todas as leis existentes na Torá, têm por objetivo regulamentar os Dez Mandamentos.
Alguns pecados eram perdoados com vários tipos de ofertas e sacrifícios. Mas, para certos pecados era exigida a morte do transgressor. Exemplo: Entre o povo de Deus era inadmissível o envolvimento com bruxaria, espiritismo, adivinhação ou consulta a mortos.
Nesses casos, aplicava-se um JUÍZO contra o transgressor, pela desobediência e violação do Segundo Mandamento. A sentença era morte, NÃO havendo perdão, pois era considerado rebeldia, blasfêmia, pela desobediência do Mandamento: “Não terás outros deuses diante de Mim” e o fazendo conscientemente por conhecer da lei (Números 15:30-31).
Deus não aceitava e não aceita até hoje. Porém, pelo governo não ser mais teocrático, como por ocasião de Moisés, o juízo não é aplicado instantaneamente para que a Lei se cumpra, mas certamente o transgressor receberá a punição no Juízo Final.
CONCLUINDO A PRIMEIRA E A SEGUNDA ALIANÇAS
A Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) faz parte da Primeira Aliança (Antigo Testamento). Na Torá estão todos os estatutos, penas, juízos aplicados à desobediência, quando infrações à lei eram cometidas. De Josué à Malaquias são livros históricos, louvores e orações (Salmos), livros sapienciais e livros proféticos de Deus exortando e conclamando o povo, pelos profetas, a retornarem, a convergirem de seus maus caminhos para aquele por Ele traçado através de seus Testemunhos (duas Tábuas de Pedra).
A Segunda Aliança (Novo Testamento – Mateus à Apocalipse) são livros que vêm complementar e aperfeiçoar, através de Jesus, a Primeira Aliança (o Primeiro Testamento): O Cordeiro da Páscoa foi substituído pelo pão e o vinho. O Sumo sacerdote, responsável por interceder no Dia da Expiação, passou a ser Yeshua (Jesus) e os sacerdotes são todos aqueles que se dispõem a servir a Deus e a guardar os seus Mandamentos. O Pentecostes passou a ser não apenas o dia que a lei foi outorgada no Monte Sinai, como também o dia que Cristo se sentou à direita do Pai e derramou o Espírito Santo sobre a Igreja (Atos 2:32-33).
As duas alianças se completam, estão intrinsecamente vinculadas. Não há como entender a Segunda Aliança, sem ter um profundo conhecimento da Primeira. A TORÁ é o cerne da Fé. É por ela que vem a salvação ao homem, é por suas leis que seremos julgados.
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (João 8:32)
Fontes de Pesquisa:
- Raízes Judaicas do Direito: princípios jurídicos da lei mosaica (Abraham, Marcus)
- https://www.pcamaral.com.br/2020/08/as-5-categorias-das-leis-de-deus.html
- https://www.google.com/search?q=as+5+categorias+de+leis&rlz=1C1GCEA_enBR957BR957&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=jdAMU5WACW0cbM%252C2gy2bUffLB4GoM%252C_&vet=1&usg=AI4_kRJe15c73IEuYW14Fj_Qs7IjGfERw&sa=X&ved=2ahUKEwiy5_G9qjyAhUUqZUCHVEOCuYQ9QF6BAgfEAE#imgrc=jdAMU5WACW0cbM